AVALIAÇÃO DA V-STROM - RODANDO NA CORDILHEIRA DOS ANDES
Depois de muitos km rodados com motos custons, declaradamente minha paixão, estava diante de um dilema; como rodar os Andes com uma moto carburada e com pouca autonomia de combustível?
Naquele momento eu tinha uma Honda Shadow 600 cc, ano 2000 que havia comprado em 2008 com míseros 14 mil km, e que já alcançava a marca de 107 mil km rodados pelo Brasil.
O problema não era a quantidade de km e sim o fato que a Shadow 600 cc é carburada, e subir até 5.000 m de altitude, garupa e bagagem, não me parecia ser muito inteligente. Comecei então a buscar uma nova moto, e após algumas pesquisas concluí que o modelo Big Trail era o caminho.
De cara as opções eram BMW GS 800, Honda Transalp 700, Kawasaki Versys e Suzuki V-Strom DL650, todas injetadas e com boa autonomia.
Após alguns Test Drives escolhi a V-Strom. O fator determinante para minha escolha foi o tamanho do tanque – capacidade de 22 litros – e o meu bolso.
Trocar de moto é fácil, mudar de estilo nem tanto e depois de milhares de km pilotando a cerca de 60 cm do solo, com as pernas esticadas para frente e o corpo jogado para trás, mudar a postura da pilotagem foi o primeiro desafio que tinha que ser superado em menos de 30 dias, uma vez que a data da viagem já estava marcada.
Com a coluna ereta e o corpo levemente projetado para frente, as primeiras partes a queimarem foram os ombros, que agora recebiam forte pressão. O truque foi relaxar os braços e ir se acostumando... nada que 1.500 km não me deixasse pronto.
A ciclística da V-Strom é fantástica, muito mais fácil que a Shadow 600 cc a qual muitos atribuem a terrível fama nas curvas; de fato não é fácil deitar com a Shadow, agora com a V-Strom só falta o cobertor. Dona de um torque absurdo, nunca antes experimentado por mim, a moto faz curvas fechadas sem que você precise desacelerar, e em alguns casos, é possível fazê-las acelerando, e se for subida ela não reclama.
Outra parte do corpo que senti foi meu joelho, por causa de alguns tombos de skate na adolescência, principalmente o esquerdo, que é meio judiado, e com ele flexionado, as dores não demoraram a chegar. Na verdade, depois de alguns km eu ainda sinto um pouco de dor, mas não posso atribuir isso a um erro de projeto da V-Strom, foi na verdade burrice em praticar skate sem equipamento, então, como diz um amigo meu: “toma que é pouco”!
No nosso último roteiro – Caminho do Peabiru de São Vicente/SP até o Litoral do Peru - em AGO/2011 enfrentamos estradas perfeitas, esburacadas e em construção, como na Bolívia onde rodamos cerca de 300 km de terra e areia.
Na parte de asfalto esburacado, costumo comparar a V-Strom com uma Mercedes... os buracos são quase imperceptíveis e nem é necessário desacelerar.
O único problema que senti foi quando colocamos a moto na terra. Não sou um piloto de trilha e viajo com a minha mulher na garupa e mais três baús, o que acabou somando nesta última trip cerca de 190 kg de carga. Não sei o quanto isso interfere, mas nas partes de areia a V-Strom costuma fincar como uma âncora, isso quando não está saindo de lado, tanto na frente quanto atrás.
No Sul da Bolívia, por onde entramos, as estradas estão em construção e como as chuvas são poucas, a terra vira uma espécie de talco que fez com que rodássemos 130 km em 7h30. A velocidade não passou de 30 km/h e minha mulher acabou indo na Boulevard cc 800 do meu amigo Jeová que fez o trajeto devagar, mas com mais segurança que eu. Não sei se por ser novato, por estar com muito peso, ou por conta do ponto de gravidade da V-Strom ser mais alto, tive bastante dificuldade nestes trechos.
Em relação a altitude, a injeção eletrônica mostrou pra que serve e contrabalanceou a entrada de ar e a moto não perdeu muita potência. Chegamos a 4.400 m e a moto andou bem. Houve alguns trechos de perda de força, mas atribuo isso a qualidade duvidosa da gasolina abastecida.
Falando em combustível, o tanque de 22 litros nos salvou de várias panes secas. No litoral do Peru e Chile, são comuns os trechos de 200 km sem ninguém, e isso inclui a ausência de postos de combustível. Tocando a 120 km/h a autonomia antes da reserva girava em torno de 350 km. Abaixo disso creio que um tanque consiga atingir a marca dos 400 km mesmo com o peso carregado. Essa sem sombra de dúvida foi a cereja do bolo na escolha da V-Strom.
A manutenção na estrada foi apenas troca de óleo aos 3.500 km e depois aos 8.000 km. Usamos o óleo Mobil MX que só trocamos na volta.
Rodamos com apenas um jogo de pneu... careca, depois de 13 mil km fica em pé sozinho.
Além de trocar o pneu, efetuamos a troca do filtro de óleo e as pastilhas de freio traseiro que chegou no metal.
A relação passa bem e no geral, a V-Strom está aprovada, principalmente pela minha mulher que sentiu grande diferença no quesito conforto – banco mais confortável e amortecedor top fizeram a diferença.
Que venham novas estradas!