TEST RIDE - TRIUMPH TIGER 800 XCA - 2017
É impressionante como conseguimos nos acostumar rápido com coisas boas não é mesmo? Uma noite mal dormida por conta de um colchão velho parece durar uma eternidade, mas uma motocada de pouco mais de 700 km com uma Triumph Tiger 800 XCa (2017 – modelo 2018) passa em um segundo tamanho conforto e desempenho.
Foi a primeira vez que tive a oportunidade de pilotar uma Triumph, uma 800cc e um motor de 3 canecos, tudo numa única vez, junto e misturado... e quer saber, foi uma delícia.
A princípio estranhei um pouco a pilotagem com os braços mais esticados que o normal – se a motoca fosse minha, um pequeno ajuste no guidão resolveria a questão – de toda forma, trata-se de um pequeno desconforto que após os primerios 100 km, desaparece.
O assovio do motor é diferente de tudo que eu já ouvi e instiga acelerar a motoca, que em alto giro chega a ficar completamente silenciosa. Somando isso a força do torque e os 95 cv que se entregam de forma muito suave, você é estilingando para frente a cada pressão leve no acelerador.
O painel bem posicionado diante do piloto, permite visualizar as informações sem perder a visão periférica da estrada à sua frente, e traz dados além da velocidade, giro e marcha, como distância percorrida na Trip, tempo de viagem (motor ligado), relógio, consumo médio, autonomia em KMs e modo de pilotagem – três modos divididos em Road, O-road e Rider – confesso que só utilizei o Road por ter rodado pouco e em estrada asfaltada.
O único senão contra o painel, é que para mudar a configuração da moto, se faz necessário apertar um botão no próprio painel. Apesar de pilotar algumas vezes relaxado com apenas uma mão (não façam isso em casa) me causa insegurança ter que apertar algum botão tirando a mão do guidão, ainda mais se este botão estiver a frente do guidão.
Penso que há espaço suficiente na manopla para mais essa função, mas isso não desabona a motoca em nada.
A bolha não é ajustavél, mas tem um grande eficácia em dispersar o vento, que desvia do peito e o direciona para altura do queixo – ao menos para mim que tenho 1,80m de altura.
Ainda assim, não causa desconforto e nem arranca o capacete da cabeça, mesmo com um modelo escamoteável aberto.
Com relação ao consumo, peguei a Tiger 800 XCa 2017/18 com apenas 1.700 km rodados, ou seja, uma criança em processo de amaciamento, o que me fez ser generoso nas retomadas e arrancadas, bem como na velocidade de cruzeiro que ficou entre 120 e 130km/h.
Pilotando em estradas Paulistas como a Rod. Dos Bandeirantes e Via Anhangüera, a Tiger 800 consumiu uma média de 20 km/L, e para uma moto com baixíssima quilometragem, este resultado foi incrível, e me fez imaginar o consumo dela ao atingir a casa dos 30 ou 50 mil km rodados.
O tanque comporta 19L e as duas ocasiões em que entrei na reserva, essa se deu na casa dos 265 km rodados. Depois de mais 65 km, quando abasteci, ainda restavam 3L no tanque, ou seja, preocupação zero com pane seca, já que teoricamente a autonomia do tanque beira os 400 km (sem garupa).
A Triumph Tiger 800 XCa 2017/18 vem com manoplas, banco do piloto e da garupa com aquecimento em dois modos que podemos chamar de morno e quente.
Nunca tinha viajado com a bunda aquecida, e como disse no começo desta avaliação, conseguimos nos acostumar rápido com coisas boas, e esse mimo da XCa deixa a viagem mais gostosa.
Ainda na manopla, é possível acender os faróis auxiliares, estrategicamente posicionados pouco abaixo dos faróis, que proporcionam uma iluminação ampla da pista à sua frente.
Agora, de todos os mimos, o que mais me encantou foi o Piloto Automático.
No início dá um pouco de medo, principalmente a sensação de relaxar o punho direito e se dar conta que a moto continua no gás.
Mas depois que você faz testes para armar e desarmar esta função – basta um toque nos freios, embreagem ou virar o acelerador para frente que tudo volta ao seu controle – você se pergunta, como foi que eu pilotei tantos anos sem essa facilidade.
A viagem foi para outro nível de diversão, e por vezes me vi estudando a reação da Triumph Tiger 800 XCa que, nas subidas, aumentava o giro do motor para manter a velocidade, enquanto que nas ladeiras abaixo, utilizava o freio motor para manter a sua constância programada.
Que sensação deliciosa.
Uma cumplicidade entre máquina e piloto que eu ainda não tinha experimentado e posso garantir, quero isso pra mim.
Se uma viagem de 700 km foi prazerosa deste jeito, imagina um roteiro de longa distância?
Finalizando, só para não dizer que tudo foram flores – até aqui classifico a motoca com 4 estrelas e meia – o único ponto negativo neste modelo fica para o fato que as rodas raiadas vêm com pneus com câmara, o que te obriga a carregar reparo de pneu a frio, câmara reserva, compressor e espátulas para tirar a roda e arrumar um furo durante as suas viagens. Sem contar a sua habilidade de fazer o serviço em lugares ermos.
Para uns isso pode ser um problema, para outros nem tanto.
Como eu venho de motos sem câmara, e de viagens longas onde pneus furam a torto e a direita, esse detalhe me faz olhar para outros modelos Triumph que não tenham câmara.
Mas isso é um gosto pessoal que definitivamente não desabona o conforto de pilotar essa moto que ainda vem equipada com protetor de motor, ferragens para baús laterais, cavalete central e uma pedaleira pra lá de confortável para o piloto, dando uma excelente base e segurança principalmente nas deitadas de curvas.