TEST RIDE EXTREME – MOEMOS A KAWASAKI VULCAN S
Quando a Kawasaki do Brasil retornou dizendo que eu poderia testar a Vulcan S 650cc em um roteiro de aproximadamente uns 2.300 km, confesso que fiquei muito preocupado, pois mais de 7 anos haviam passado motocando no lombo de motos Big Trail, e voltar para uma moto Custon não seria muito fácil.
A transição entre modelos sempre é complicada e requer um bom tempo de adaptação. Foi assim quando após 150.000 km viajando com uma Viraguinho 250 e uma Shadow 600, fiz a transição para uma V-Strom 650 a qual odiei com todas as minhas forças.
Na época eu tinha um contrato com o Salão Duas Rodas em que o projeto de viagem consistia em motocar a Cordilheira dos Andes, e fazer isso com garupa e uma moto carburada não me parecia a coisa mais inteligente a ser feita. Por isso troquei a Shadow pela V-Strom e sai pilotando com dores nas costas, ombros, pernas, bunda e onde mais houvesse pele e músculo.
Agora repetiria o processo em ordem inversa, com o agravante que outros 230.000 km já tinham passado debaixo das minhas botas que voltariam ao estilo “ao vento”, com as pernocas esticadas pedaleiras a frente.
O roteiro constituía guiar um grupo de amigos até Cambará do Sul/RS, fazendo escala em Joinville/SC e rasgando as BR-116 e BR-101, onde levei apenas uma Bolsa GIVI amarrada ao banco, e uma Mala Tanque, também da GIVI, mas inapropriada para o estilo da moto, já que a altura do tanque fazia com que o painel ficasse parcialmente encoberto – existem outras Malas Tanque apropriadas para este modelo, mas era o que eu tinha em mãos e precisava deste espaço de bagagem.
Nada que uma esticadinha na coluna não me informasse a velocidade, giro e nível do tanque.
Falando nisso, um fato que me chamou a atenção e me colocou em alerta era a questão de autonomia do tanque de apenas 14L – estou acostumando com 6L a mais, o que garante uma autonomia de aproximadamente uns 350 km.
A princípio e fazendo uma conta básica, eu teria pane seca com 245 km, caso não conhecesse bem o caminho, mas a Vulcan S me surpreendeu logo nas primeiras abastecidas, apresentando um consumo na casa dos 25 km/L, e me colocando pau a pau com outras motos grandes que compunham nosso grupo.
Eu confesso que sou apaixonado pelo Estilo Custon, sofro de nostalgia de uma época que não vivi, e as linhas retro me enchem os olhos, mas a Vulcan S me conquistou por outros motivos além do seu design encantador.
A ciclística da motoca, associada ao motor esportivo da Ninja 650 de 61CV, mais o seu peso na casa dos 228 kg, fez com que o pneu 160 na traseira inclinasse a moto nos ângulos mais alucinantes, principalmente na subida da Serra rumo à Cambará do Sul.
O torque é forte e responde rápido – padrão dos Motores Kawasaki – que garante diversão e segurança na ultrapassagem e retomada de velocidade.
Ainda que parcialmente encoberto pela minha Mala Tanque, o painel trás as informações básicas que podemos encontrar em outras motos da marca, o senão vai para o fato que o acesso às funcionalidades não está em um botão no manete e sim no próprio painel, o que nos obriga a dar uma esticada e tirar a mão do guidão para conferir informações como consumo, temperatura, distancias percorridas, entre outras.
Não consegui acertar a posição dos retrovisores de forma que conseguisse ver o meu grupo inteiro atrás de mim, e sempre precisei dançar um pouquinho, indo de um lado para o outro e constatar que todos estavam ali, mas de toda forma, nada que me colocasse em risco, e até acredito que pilotos abaixo da minha estatura (1,80m) não terão esse tipo de problema.
Apesar do banco ser macio, demorei cerca de 500 km para me sentir confortável, mas isso se deu por conta do hábito de pilotar realmente sentado sobre a bunda, com as pernas e os braços levemente flexionados.
Aqui, a pilotagem era com as pernas esticadas, e até mesmo os cotovelos em quase ângulo ZERO, o que me causou dores durante a adaptação... passado isso, só alegria e vento no peito.
Fiz a viagem sozinho, e não sei avaliar qual o grau de conforto proporcionado à minha esposa, já que o banco da garupa é pequeno e o amortecedor muito mole para o meu gosto. Não existe uma “borboleta” aonde se pode aumentar a pressão da mola, apesar de ajustes disponíveis no corpo do amortecedor traseiro que pode ser configurado em uma oficina autorizada... o fato é que irregularidades do asfalto, de remendos a cabeceiras de pontes, faziam eu saltar do banco a cada solavanco.
Talvez mais pesado... com ajustes na mola este efeito seja minimizado... não sei, fica para um novo e futuro teste.
De forma geral, a viagem foi muito gostosa, até mesmo depois que fui atropelado em um cruzamento.
TÔ PASSANDO
No trajeto para casa, passamos em Tubarão/SC para resgatar a moto de um amigo que deu pane no Estator, e ao sair da oficina, seguimos por uma rua estreita e de mão dupla, que logo nos fez parar em um cruzamento com semáforo.
Amigos me relataram que ao sair da oficina, somente eu e mais dois amigos conseguimos seguir pela rua, já que o restante do grupo teve que esperar um Fiat Palio rasgar a rua em alta velocidade.
Neste momento eu estava tranquilamente esperando o semáforo abrir.
Em movimento, não andei nem mesmo 3 metros quando alguma coisa bateu atrás de mim, pelo lado esquerdo, enroscando no meu guidão e me arrastando por mais de 5m até o chão.
Bati fortemente o ombro no chão enquanto torcia o tornozelo.
Meu amigo que estava de Harley atrás de mim contou que graças ao cruzamento, conseguiu tirar a moto para direita e evitar a colisão, caso contrário, seria ele o arremessado para cima de mim.
Deitado no chão, logo veio a motorista maluca me pedindo perdão e no meio daquele blablabla a única coisa que eu conseguia me concentrar era na motoca deitada a poucos centímetros de um hidrante.
Me ajudaram a levantar, ergueram a moto e constatamos que os danos atingiram o retrovisor esquerdo que moeu, o tanque que amassou com o guidão, a carenagem do farol toda arranhada, e a pedaleira de marcha completamente entortada.
Acionei meu amigo Rudinho da oficina Duas Rodas que veio ao meu socorro e levou a moto na tentativa de desentortar a pedaleira. Enquanto isso a polícia fazia a ocorrência e chamava um SAMU para mim.
Como tínhamos ainda um bom trecho a percorrer naquele dia até Joinville, reuni o grupo e dei as instruções até o hotel, colocando todos em curso de marcha. Dois amigos se recusaram a me deixar, e tão logo a bateria de Raio-X constatou fratura zero, passei na oficina, retirei a motoca e parti para estrada mesmo com fortes dores.
Ainda consegui encontrar o grupo saindo de um posto cerca de 120 km a frente, e juntos seguimos viagem noite a dentro.
Foi meu primeiro acidente onde um carro me acertou, mas me senti agradecido por nada além de um tornozelo torcido ter me acontecido.
Pilotei vários dias com dores no corpo, inclusive um grupo que guiei naquela mesma semana rumo à Machu Picchu – sinal que apesar do susto, da indignação diante a imprudência de uma motorista trafegando em alta velocidade e fazendo ultrapassagem em uma rua estreita como aquela, e a motoca moída que seguiu valente todo o caminho de volta para casa, eu tinha na verdade era muita sorte.
Durante todo o processo, a equipe da Kawasaki do Brasil se mostrou muito mais preocupada comigo do que com a moto, que segue em conserto custeado pelo seguro da maluca. Quanto a ela, vou poupa-la de um processo, desde que se comprometa a prestar trabalhos voluntário e ajudar meu amigo Rudinho nas suas causas filantrópicas.
Agradeço do coração o apoio que grupo me deu e de resto, é a vida que segue...