A LOGÍSTICA DO DINHEIRO - PARTE 2 - A REAL
Eu acredito que o medo de ser assaltado, seja um dos maiores fantasmas que povoam as mentes de motociclistas que resolvem sair em viagem pela América Latina.
Tal quais os ciganos que comem criancinhas, muito se fala dos narcotraficantes sul americanos como se eles se escondessem atrás de cada poste, quando na verdade não é bem assim.
Mas a preocupação é válida de toda a forma. Imagina ter a carteira roubada com documentos, cartões e grana a 5.000 km de casa? Em território estrangeiro isso realmente é de dar medo.
Daí a questão, como, quanto e em que espécie levar dinheiro em uma viagem dessas?
Escrevemos antes da viagem um artigo - A logística do dinheiro em viagens de moto - que até então era pura tese. Agora temos como afirmar o que vale ou não a pena fazer.
Para essa viagem, dividimos a grana de cinco formas, Reais, Débito Automático, Dolares, Cartão de Crédito Internacional e Cash Passport.
Reais e Débito Automático
Rodamos , entre ida e volta, cerca de 3.000 km pelo Paraná e São Paulo, onde só usamos Reais e Débito Automático (Visa Electron).
Eu particularmente prefiro o uso do Débito Automático, pois no canhoto, se for de posto de gasolina, por exemplo, já aproveito para anotar os km e litros comprados.
Para essa viagem levamos cerca de R$1.000,00 em dinheiro para troca de câmbio e uso em eventual estabelecimento onde não aceitasse cartões.
Uma vantagem do Visa Electron é que nos caixas com REDE PLUS é possível sacar em moeda local... mas deve-se atentar as tarifas bancárias e a cotação do Dolar no Brasil, pois embora você efetue uma retirada em Guaranis (moeda paraguaia) na sua conta esse valor será debitado em Dolar e convertido para o câmbio do dia. Além disso, há uma taxa de mais ou menos 4,4% sobre o valor do saque.
Dolares
Levamos cerca de US$1.800,00 em grana para ser trocado e para uso comum. Tirando o Chile, todos os outros países aceitam pagamentos em Dolar, alguns deles já te dão o preço no valor da moeda americana. Uma boa dica é pedir o troco em moeda local. Há uma pequena perda pelo arredondamento, mas se você souber a cotação da moeda, é fácil conferir o troco.
Incrível como todos os estabelecimentos sabem o valor da conversão do dia, alguns até fixam o câmbio na parede.
Nos países pelos quais passamos (Paraguai, Bolívia, Peru, Chile e Argentina) existe mais casa de câmbio nas ruas que restaurante em alguns lugares. Brincadeira a parte, é muito fácil encontrar casas para troca de moedas. Em algumas fronteiras como Bolívia e Peru (na região de Copacabana) troca-se qualquer moeda na rua mesmo, em pequenas bancas... e pelo valor correto de câmbio.
Cash Passport
Há os que se dão bem e há os que se ferram em tudo nesta vida não é mesmo? Pois bem, em relação ao Cash Passport eu faço parte do seleto grupo que se deu mal.
Para os que não conhecem, o Cash Passport é um cartão oferecido pelas bandeiras de Cartão de Crédito onde se deposita uma quantia X de dinheiro e usa durante a viagem como débito e até mesmo com a possibilidade de saque nos caixas da RED Bank.
Legal! Solicitei em uma casa de câmbio o meu cartão Cash Passport da Master Card e depositei nele cerca de US$2.400,00 – a vantagem é que o IOF nesta transação é um pouco abaixo praticado pelos cartões de crédito e o valor do Dolar praticado é o turismo. Outra vantagem é que não há taxa de serviço e o cartão sai na hora.
Maravilha... pegamos estrada e no Paraguai fui pagar uma compra e deu erro... imaginei que não tinha decorado corretamente a senha e paguei a conta em Dolar mesmo e deixei quieto.
Na Bolívia fui pagar o Hotel e novamente deu erro, mas desta vez eu estava com a senha em mãos. Tentei em um outro hotel e mais uma vez deu erro.
Ai eu estava na roça, pois na Bolívia e Peru não existem números 0800 para ligar, apenas um número na Inglaterra – pensa nisso!
Liguei para um amigo no Brasil e ele se passando por mim descobriu que o cartão estava bloqueado (?)... feito o desbloqueio, novamente deu erro.
Meus Dolares estavam acabando embora eu fosse um homem rico no cartão que não funcionava (rs).
Em Cuzco no Peru, meu amigo conseguiu um número 0800 que não é divulgado e consegui ligar e pedir a transferência dos valores para Western Union onde fui sacar a grana aos 45 do segundo tempo.
Posto isso, fica complicado recomendar este cartão que se descobriu depois que estava com defeito. A dica é sair da casa de câmbio e comprar qualquer coisa para testar o mesmo antes de sair para estrada.
Cartão de Crédito Internacional
É o menos recomendado, mas acabamos usando em duas ou três ocasiões.
O arriscado é que você nunca saberá o valor do câmbio na hora do fechamento da fatura, além de incidir IOF e os ajustes de taxa cambial que vem em faturas futuras.
Dica de Segurança
• Nunca deixe todo o dinheiro na carteira, coloque apenas o que for usar.
• Nunca conte dinheiro na rua ou estabelecimentos. Lembre-se que na sua testa está escrito estrangeiro, e por mais que essa viagem seja a realização de um sonho que levou anos para conseguir viabilizá-la, aos olhos dos outros, você é patrão, cheio da grana.
• Quando sair do hotel para passear, leve apenas uma quantia suficiente para uma refeição ou ingresso em museu, igreja ou compras. O restante deixe no quarto e se este não tiver cofre, deixe-o trancado nos baús ou alforje.
• Na estrada, deixe na carteira o estritamente necessário para gasolina e uma água ou bolacha. Abrir a carteira recheada na frente de um comerciante ou policial é pedir para ser assaltado. Difícil saber a índole de quem olha para nossa carteira e como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão.
• Espalhe a grana pela roupa, bagagem e moto. Eu costumo colocar vários envelopes até mesmo embaixo do banco da moto, na bota, na jaqueta, nos baús. Se me deixarem pelado na estrada e levarem a moto... eu vou estar ferrado do mesmo jeito, caso contrário, levam apenas parte da grana e não tudo.
• Pechinche sempre, você vai se surpreender o quanto os valores podem baixar.
• É bom saber : No Paraguai a moeda é o Guarani, na Bolívia o Boliviano, no Peru é o Nuevo Sole, no Chile é o Peso Chileno e na Argentina o Peso.