SUBINDO O VULCÃO LASCAR - 5.590M

Cidade: San Pedro de Atacama/CH | Categoria: Passeios
Postado em: 20/9/2015
Diário de Motocicleta

Assim que eu acabara de descer o Vulcão La Poruña, exausto, com sede e já dolorido, disse para Elda que não queria mais saber de subir vulcão, mas tão logo saímos de um restaurante em San Pedro de Atacama, ao passar em frente a Agência Vulcan Adventure, questionei o guia sobre o Vulcão Lascar.

Ele me disse que havia uma vaga no grupo para o dia seguinte, e com a agência que eu havia contatado estava fazendo doce, dizendo que não tinha mais ninguém para subir comigo, tratei logo de contratar o tour.

Naquela noite, jantamos com o pessoal de BH e fui dormir cedo, pois às 5h da manhã passariam para me buscar.
E como prometido, entrei numa pick up rumo ao Lascar, deixando a Elda no hotel, equipado com o que eu tinha de melhor para o frio... minhas roupas da TEXX.
Usei a segunda pele por debaixo da calça, a jaqueta AirBag e as luvas Delta II.

O motorista era o guia David que ainda passou para pegar mais três brasileiros do Rio de Janeiro, Gustavo, Pedro e Ricardo, viajando o Chile de mochilão.

Nossa viagem até o Lascar levou cerca de 2h descendo parte do Paso Sico, e depois saindo do asfalto por mais 60 km até a Laguna Lejía onde chegamos ao nascer do Sol para o nosso café da manhã.

Foi complicado comer debaixo de um vento forte de -5˚C... tirar a luva para preparar o chá e um sanduíche de queijo com peito de peru foi dolorido, e somente a visão dos Vulcões Lascar, Aguas Calientes, Pili e Chiliques distraíam a mente.

Depois de meia hora, voltamos para a pick up e seguimos para a base do Lascar, parando a 4.400m de altitude de onde iniciaríamos a nossa subida.

O guia nos instruiu a dar passos largos e contínuos, sem parar por cerca de 25 minutos... avançando sempre e que nos momentos difíceis, não pensássemos de o quanto estava sendo difícil, que abríssemos a mente, apreciássemos a paisagem e que não parássemos por nada.

Logo nos primeiros 10 metros senti uma brutal falta de ar... a balaclava que eu usava estava me sufocando e a mochila com câmera, baterias, cartões e garrafas de água do nada passaram a pesar 200 kg e não tinha como continuar.

O segundo guia, Cláudio, que vinha logo atrás de mim, vendo a minha dificuldade, me auxiliou e ao constatar o peso da minha mochila, disse que a levaria de volta para pick up, pois com aquele peso seria impossível continuar.

A caminhada ficou mais leve, mas não mais fácil.

Qualquer passo acima de 4.000 m é de um esforço ímpar, e ali tínhamos a ordem de não parar.

Eu fixei o olhar na trilha, focava nos meus pés e nas pedras no chão e não olhava nem para frente e nem para trás... não queria saber o quanto já tinha andado, e muito menos o quanto faltava.

Me bastava a falta de ar.

O David sempre dizia que logo mais a frente o terreno ficaria mais plano, mas na verdade ficava mais íngreme, enquanto o Cláudio vinha me dando suporte, me oferecendo água já que a minha tinha ficado na mochila, e sempre repetindo que eu era forte, mesmo quando eu parava sem ar e com a cabeça a ponto de explodir.

Por volta de uma hora de subida, atingimos 5.000 m, depois veio os 5.400 m quando passamos por “penitentes”, pedaços de gelo escarpado, bem difíceis de atravessar, ainda mais com os fortes ventos que nos obrigavam a fincar os bastões na terra e nos segurar.

O frio reduziu ou amorteceu os sentidos, pois não o sentia assim tão severo.

Passadas 2h30, chegamos na borda da cratera do Vulcão Lascar e senti vontade de chorar... só não desabei porque todos começaram a se abraçar e dar os parabéns, e isso distraiu as emoções por um momento... até que fiquei de frente com um enorme buraco fumegante... exalando constantemente uma fumaça amarela que vez ou outra vinha pra cima da gente com forte cheiro de enxofre.

Eu estava à 5.590 m e acabara de realizar o feito mais difícil da minha vida... título antes atribuído à travessia da BR-319 na Floresta Amazônica.

Esse desafio foi de longe o mais difícil e o mais incrível de ser conquistado e só quem já caminhou nessa altitude pode mensurar o que estou narrando.

Ficamos cerca de 10 minutos no topo, e por conta dos gases tóxicos antecipamos nossa descida, que neste caso não cabe o velho ditado “Pra baixo todo santo ajuda”.

Pelo incrível que pareça foi tão complicado quanto a subida, com a desvantagem de ser acometido por uma fortíssima dor de cabeça e enjoos.

As pernas já cansadas me jogaram no barranco por três vezes e depois de uma hora sem paradas, voltamos para pick up aos 4.400 m.

Eu estava realizado, feliz demais por ter conseguido e completamente acabado, a ponto de dormir assim que começou o asfalto... acho que até sonhei durante o caminho, e só acordei na porta da minha pousada por volta das 15h.

Foi o tempo de ver o sorriso da Elda, contar as novidades, lhe passar a câmera fotográfica e desmaiar na cama.

Nunca mais vou dizer nunca para um vulcão... e em breve voltarei para mais um desafio de tirar o fôlego.

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