PRIMEIRO CONTATO COM A CORDILHEIRA DOS ANDES
Cidade: Cochabamba/BO | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 7/8/2015
Às oito da manhã o Luis Fernando e o filho Leo já nos aguardavam na porta do hotel para seguirmos para Cochabamba.
Como mencionei em artigos anteriores, o Luis está em um projeto pessoal de percorrer a Bolívia de um lado ao outro... do Brasil ao Peru, e isso me proporcionou o prazer de motocar com esse cara super gente boa desde Corumbá.
Saímos para abastecer e já no primeiro posto não pude completar meu tanque, por que como sou estrangeiro, além do valor ser diferenciado, é preciso emitir uma nota fiscal que é enviada ao Governo, informando quanto de gasolina foi vendida, para quem, entre outros dados, e por ser feriado (Dia da Independência da Bolívia) o responsável por esta nota não foi trabalhar.
Seguimos para o próximo posto e mais uma vez o “contador” não foi trabalhar, e só no terceiro posto conseguimos abastecer.
Há a chance de abastecer com uma placa boliviana (os bolivianos precisam informar sua placa para abastecer), mas os postos possuem câmeras e um sistema que rastreia os veículos chipados... os caras sabem como fazer uma lei funcionar.
Depois de uma hora no posto, fazendo nota, calculando valor etc e tal, saímos para estrada debaixo de uma nuvem de areia provocada por fortes ventos, tão fortes como os que enfrentei na Patagônia indo ao Ushuaia.
Seguimos a Ruta 4, a mesma que pegamos lá na fronteira com o Brasil, e seguimos cruzando várias cidadezinhas com toda a população nas ruas por conta de desfiles cívicos.
A paisagem é muito Tropical, com áreas verdes e colinas e montanhas repletas de árvores. É uma das regiões mais úmidas da Bolívia e onde mais chove. Sabendo disso, eu não tirava os olhos das nuvens escuras que passavam rasgando por nós.
Com o passar dos quilômetros, o vento foi parando, mas o corpo já estava moído, a ponto de pararmos para um pequeno almoço, e quem me conhece sabe que em dias de estrada eu não almoço, faço apenas pequenos lanches.
Mas eu precisava muito sentar e relaxar um pouco... uma cerveja era tudo o que eu pensava, mas ainda tínhamos muito chão pela frente.
Deixamos a Villa Tunari e seguimos alguns km até pararmos em um congestionamento monstro. Cortamos a fila pela contra-mão até um ponto que não dava pra passar.
Neste ponto, houve uma ponte que foi levada por uma enxurrada no mês de Março se não me engano, e o Governo fez um desvio enquanto a ponte não fica pronta, acontece que neste desvio só passa um lado de cada vez, e quando chegamos o nosso lado tinha acabado de fechar... foram mais de 30 minutos esperando a fila andar.
O desvio é de areia e pedra, muito difícil para uma moto com garupa e bagagem, mas deste ponto em diante, vários trechos levados por desmoronamentos foram reconstituídos por um calçamento de pedras, o que exigia muita atenção, pois do nada, no meio de uma curva o asfalto acabava.
A estrada foi serpenteando Cordilheira acima, fazendo lembrar em alguns trechos a Rio-Santos no Estado de São Paulo/BR.
A medida que subíamos, a temperatura caia, nos fazendo experimentar uma média dos 34˚C aos 11˚C... isso em um curto espaço de tempo.
Atingimos a marca dos 4.100m de altitude, quando cruzamos a Represa Corani. Neste ponto o verde das Florestas Tropicais dão lugar a rochas, e a Cordilheira dos Andes assume sua versão deserto... uma mudança muito louca de se observar.
Passando esse pico, começamos a descer, enquanto a temperatura foi subindo até 22˚C quando chegamos em Cochabamba, 460 km depois.
Para quem pensa em fazer esse trecho, recomento calma e paciência. É uma estrada praticamente reta no começo, mas com muitas curvas do meio para o fim.
A quantidade de carros e caminhões é grande e as ultrapassagens devem ser muito estudadas.
O abastecimento é tranquilo... existem várias cidades com postos de combustível, então, é só não ter pressa pra chegar, por que vai demorar mais ou menos umas nove horas.
Prepare a câmera... o contraste no visual é impressionante.