O DIA QUE NÃO ACABOU...
Cidade: Florianópolis/SC | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 22/6/2014
Após uma noite gelaaaaada em Bom Jardim da Serra, o dia amanheceu com uma fina camada de gelo que perdurou por volta das 8h, quando os termômetros ainda marcavam -5°C.
Haja disposição para motocar, mas a vida não é feita para preguiçosos e após o café da manhã, empurrei a Multistrada por 20 m até o borracheiro que reparou o furo do pneu com um “macarrãozinho”, e rapidamente parti para curtir uma manhã de céu azul sobre a Serra do Rio do Rastro.
Já estive aqui um milhão de vezes, e ainda é impossível segurar o riso dentro do capacete quando se chega ao Mirante da Serra... em um dia sem nenhuma nuvem então... a sensação é indescritível.
Preparei todas as câmeras, fiz um voo em meio a rajadas de ventos com o drone, e quando as motos começaram a chegar vindas de todos os lados, desci a serra fazendo imagens incríveis.
Em uma parada encontrei um grupo de amigos de Belo Horizonte que estavam ali pela primeira vez, e uma das motos já apresentava problemas nos freios.
Dei a dica de descer engrenado em 2ª marcha, usando o freio motor ao invés das pastilhas... já fiquei sem freio por descer no breque, e isso é muito perigoso.
Uma vez lá embaixo, o jeito é subir... fazer o quê, a vida às vezes nos obriga a fazer cada coisa que nem vou comentar.
Realmente o dia estava lindo, como a muito tempo não via, e depois de colidir o drone com as paredes de rochas e perder uma das hélices, decidi seguir viagem, pois ainda faria palestra na DUCATI de Florianópolis logo mais a noite.
Segui rumo a Urubici primeiro pela SC-390 e depois através da SC-110, uma das minhas estradas preferidas das Serras Catarinenses. Ela possui curvas sequenciais e geralmente abertas que possibilitam uma velocidade constante, com deitadas de arrancar gargalhadas.
São cerca de 80 km entre a Serra do Rio do Rastro e Urubici, de onde eu acessaria a BR-282... outra estrada fantástica em Santa Catarina, mas infelizmente não consegui chegar.
Em uma curva, pilotando a 90 km/h o pneu esvaziou em um passe de mágica.
Rapidamente perdi a estabilidade da moto e graças ao sistema de acionamento combinado dos freios ABS (dianteiro e traseiro), alicatei o manete e controlei a moto até constatar que o pneu havia furado novamente.
Desacreditei e xinguei muito!
Voltei alguns metros, até uma casinha e pedi para guardar os baús, pois pelas minhas contas, há uns 6 km antes eu havia passado por um borracheiro conhecido de outras viagens – no Carnaval/14, o pneu da moto do meu amigo Fausto Sampaio furou neste mesmo lugar.
Um pouco mais leve, comecei a empurrar a moto engatada em 1ª marcha e depois de 2 km, resolvi montar na moto e seguir tocando a 10 km/h.
Vários motociclista passaram por mim sem prestar auxílio, fato que me entristece muito, já que milhares ostentam a solidariedade da irmandade... enfim... depois de mais uns 2 km nesta situação, um motociclista passou por mim em sentido contrário, reduziu e voltou oferecendo reparo.
Adilson e sua esposa em uma BMW GS 1200 gentilmente me auxiliaram remendando o furo com outro macarrão.
Nesta altura, o resto do macarrão anterior estava grudado no pneu e dava a entender que se tratava de um furo novo... muita sorte, não é mesmo?
Nisso, o amigo Eluísio, que havia me encontrado na Serra do Rio do Rastro, passou e voltou para prestar ajuda, me fornecendo uma lata de Motul Tyre Repair, que calibrou um pouco o pneu e possibilitou resgatar os baús e seguir para Urubici.
Agradeci a estes dois grandes motociclistas e os liberei, pois faria o trajeto bem devagar já que o pneu não estava 100% cheio.
No mirante de Urubici, cerca de 25 km depois os encontrei novamente quando passei com o pneu vazio novamente.
Mais uma vez esses caras me ajudaram – isso por que o Eluísio tinha compromisso ainda naquela tarde e precisava voltar para casa.
Desceram a serra comigo, me escoltando com pisca alertas ligados e tão logo guardei os baús em um restaurante, segui para outro borracheiro que fez o reparo mais uma vez.
Aqui constatei que não eram furos múltiplos e sim o mesmo buraco que não segurava o macarrão.
A região é composta de pedras muito afiadas, que quando quebram formam pontas finas que podem rasgar qualquer pneu.. a atenção deve ser redobrada, pois desmoronamentos na beira da estrada espalham farpas por todos os lados.
Reparado o pneu, baús na moto, bora seguir para Floripa... o dia já estava chegando ao fim e ainda me restavam 170 km. Mas o remendo durou menos que 10 km e novamente retornei para Urubici.
Agora em um novo borracheiro, velhinho e experiente, me disse que para aquele rasgo era preciso dois macarrões e tampou o buraco garantindo que nunca mais sairia.
O nunca mais dele me levou até a BR-282 quando mais uma vez o pneu esvaziou.
É preciso saber quando parar, e neste momento joguei a toalha acionando a DUCATI Floripa que providenciou uma plataforma para me resgatar no alto da serra.
Infelizmente este contratempo fez com que cancelássemos as palestras em Florianópolis e Curitiba, pois foi preciso substituir o pneu, já que a cada reparo o rasgo foi aumentando cada vez mais, e os vários km percorridos com ele vazio, colocou a estrutura lateral do mesmo em cheque.
Aos amigos Eluísio e Adilson, o meu sincero e profundo agradecimento pelo tempo disponibilizado em me ajudar... aos amigos que esperavam em me encontrar nas lojas DUCATI de Floripa e Curitiba, já estamos planejando um breve retorno, onde teremos a oportunidade de um bate papo com imagens inéditas desta aventura.
Agora é ajustar alguns detalhes e prosseguir a viagem com a próxima palestra em São Paulo.
#BoraMotocar