1.300 KM SÓ PARA COMEÇAR

2º dia de viagem
Cidade: Pelotas/RS | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 14/6/2014
Diário de Motocicleta

Normalmente a ansiedade de uma viagem de moto me tira o sono um dia antes da partida, mas neste projeto, o sono me abandonou faz tempo por conta de vários motivos, entre eles a responsabilidade de representar a DUCATI Brasil em um projeto que se iniciou na verdade na Itália, sede da empresa, e por conta da tempestividade das ideias, o que certamente levaria alguns meses de planejamento, se organizou e se resolveu tudo praticamente em poucas semanas.

Esta falta de zona de conforto é um excelente estimulante, e negar esta oportunidade seria no mínimo, a coisa mais estúpida a ser feita.

Para vocês terem ideia, quando terminei a palestra na DUCATI SANTOS (farei palestras em todas as Lojas DUCATI do Brasil), corri para casa a tempo de arrumar a bagagem, e por mais que tenha feito e refeito as malas ao longo destes anos, um baú GIVI vazio é tão aterrorizador quanto uma folha em branco diante de quem pretende escrever um livro.

Minha preocupação não é levar coisa demais, e esquecer itens importantes, e é claro que esqueci, mas antes de contar o que foi... após dormir aproximadamente 2h30, levantei às 6h para montar tudo e parti como sempre atrasado.



Os planos de sair 6h30 na verdade se estendeu até às 8h30 quando finalmente coloquei a DUCATI Multistrada 1200 S no asfalto.



O dia estava incrivelmente azul e o destino era ambicioso... rodar 1.300 km até a cidade de Rio Grande/RS, então dei um beijo de Feliz Dia dos Namorados na Elda, que ficou na calçada com parte do meu coração partido nas mãos. Não gosto de viajar sem ela, na verdade, este é o primeiro projeto em que desde o início sabíamos que ela não participaria, mas já tive a oportunidade de viajar sem ela (Ushuaia 2012) e garanto que é muito ruim a falta que ela me faz.
Mas deixa-me falar da estrada... os olhos se enchem fácil por estas bandas daqui.



À medida que ia descendo para o Sul, o céu foi abrindo cada vez mais, dando a tranquilidade do sucesso de um trajeto longo, mas sem em momento algum, esquecer a longa distância.

Prefiro trechos mais curtos, coisa de 600 km/dia é ideal, não cansa muito e é possível aproveitar mais a paisagem.

Em especial neste roteiro, a viagem foi um pouco entediante, pois conheço o traçado de cor e salteado, com tantas idas e vindas para Serra do Rio do Rastro (Santa Catarina), Cavernas de Iporanga e viagens ao Ushuaia e Atacama.
Caminhos conhecidos são um grande risco para a atenção, e com sono a brincadeira fica mais séria... confesso que dei umas duas ou três piscadas... por sorte em pistas retas.



A falta da Elda na garupa e a grande distância a ser percorrida não me possibilitaram parar para fotos, principalmente depois que eu descobri o que ficou em casa.

O “Troféu Perrengue do Dia” vai para a viseira cristal que ficou bem guardada no armário, vim apenas com a viseira fumê e acabei pilotando cerca de 500 km a noite com a viseira levantada.

Só depois que me olhei no espelho entendi por que quando cheguei no hotel, começaram a tocar Bob Marley... meus olhos estavam inchados e vermelhos de tanto vento, poeira e insetos.



Os planos era seguir para a cidade de São José do Norte e atravessar a balsa para Rio Grande, mas me ocorreu que, se a Balsa Santos-Guarujá que é movimentadíssima para a meia noite... a que horas a balsa de Rio Grande deveria parar?

Em um posto de gasolina pedi informação à um caminhoneiro que me alertou que somente Às 7h da manhã do dia seguinte a movimentação começaria.
Até ai, o amigo pode pensar... beleza, que diferença faz dormir deste lado da travessia não é mesmo?

Então, conheço São José do Norte, e é muito pobre... o comércio, os hotéis o progresso ficam na outra margem, e facilmente não encontraria lugar para dormir.
Sendo assim, mudanças de planos... em Osório/RS segui a BR-290 para Porto Alegre e de lá continuei até Pelotas/RS que fica uns 50 km antes de Rio Grande, mais ao norte.



Depois de 1370 km, cheguei à cidade por volta das 23h30 e demorei a achar um hotel bom e em conta.

Agora é tentar dormir umas 4h pelo menos, pois amanhã sigo para Montevidéu no Uruguai.
Tô um bagaço, mas com um sorriso persistentemente estampado no rosto.

Continua daí que eu continuo daqui!