O CONCIERGE MALDITO
Cidade: Rio Amazonas/PA | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 6/9/2013
Toc toc toc!
Silêncio!
TOC TOC TOC!
-- Sim!
-- O café da manhã está servido!
-- OK!
Mais uma vez às 6h30 fomos acordados pelo “Concierge” do Navio Nélio Corrêa... já começo a pensar em deixar um bilhetinho na porta do tipo “Cuidado, dono do cão bravo”.
Ao abrirmos a porta do camarote demos de cara com o gigantesco Rio Amazonas, completamente diferente daquel riuozinho que entramos ontem no fim da noite.
Agora com a outra margem quase a perder de vista, ao nosso lado casinhas na beirada do rio desafiavam a engenharia e a natureza, que a qualquer momento pode levá-las sem a menor cerimônia.
A pobreza salta aos olhos vistos, da mesma forma que se torna relativa... o que é ser pobre às margens do Rio Amazonas? O rio oferece pesca o ano todo, os barcos sobem e descem oferecendo a possibilidade de se vender pescado aos turistas... e toda casinha tem um gerador, antena parabólica e tv.
Não existe carro porque não há estradas, tê-lo é tão inútil quanto eu tentar usar um barco para ir da minha casa ao supermercado.
Os rostos são sofridos, mas não vi nenhuma lágrima, muito pelo contrário, as crianças acenam par o barco, enquanto jogam bola.
É um povo que ri, que dança e que canta suas dificuldades.
Personagens da Vida
Andando pelo barco conheci figuras interessantes, como o Bicudo que morou um tempo em Jordanésia, região de Jundiaí – interior de São Paulo – trabalhando em obra.
Ele me contou que “correu de Sum Paulo” por que não aguentava o frio de 18°C... confessa que uma coisa com a qual não acostumou foi “o tal de banho quente”! Não entende como as pessoas podem tomar banho sem ser com água fria, e que enquanto morou em “Sum Paulo”, ligava o chuveiro e aproveitava as primeiras gotas antes que elas esquentassem muito!
Agora está voltando para Manaus, um ano depois de ter deixado um casamento de 14 anos no qual foi muito maltratado e por fim corneado... não pensa em voltar para ex-mulher, e quer recomeçar a vida e achar um novo amor.
Com as economias, comprou um carrinho de sorvete adaptado para churrasqueira - comum também no Nordeste - e vai rodar na porta das escolas, cinema, praças e afns.
O Rio continuou nos mostrando o caminho até no meio da tarde, quando paramos rapidamente em Almerim, uma simpática cidadezinha que pelo incrível que pareça os motociclistas usam capacete... e são mais motos do que carros.
Não ficamos nem 20 minutos parados e partimos!
Pouco tempo depois, passamos pelo “Linhão” como são chamadas as torres imensas de alta tensão que levarão a energia produzida em Belo Monte para o Amazonas e Amapá.
Segundo o capitão, as duas torres que cruzam os cabos sobre o Amazonas foram construídas pelos japoneses em apenas 3 meses de trabalho... e o Nélio Corrêa (nosso barco) foi um dos contratados para carregar parte do material.
No início da noite paramos em Prainha para embarque e desembarque de passageiros, e mais uma moto subiu à bordo e o barco encheu de caras novas que nos próximos dias iremos acabar conhecendo.
Na madrugada paramos em Monte Alegre, mas com preguiça sequer me levantei para fotos... fico devendo essa.
Amanhã chegaremos em Santarém e se o tempo estiver bom iremos até Alter do Chão. Confira aqui!