13H DEPOIS...
Cidade: Malargüe/AR | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 1/1/2013
Se as 13h passadas na estrada já no primeiro dia do ano forem um resumo de 2013, estou feito.
Passei momentos de sufoco, dificuldades, mas acima de tudo superação somada a um intenso prazer que ainda busco palavras para descrever.
Saindo de Bariloche rumo ao Norte, o caminho a princípio não era muito animador, mas isso se dá pelo efeito comparativo... temos por hábito sempre colocar duas situações, dois fatos, dois exemplos em oposição e escolher sempre qual é o melhor, mas creio que deveríamos ter tudo como único.
Um dia nunca é igual ao outro, um amor nunca é mais forte que um anterior e a felicidade é sempre plena... não é possível ser mais ou menos feliz. Se você é, é e pronto!
Quem sabe a maturidade deixe isso mais enraizado em mim, mas por hora, achei a estrada meio sem graça por alguns km, até que a Ruta 40 se torna sinuosa, com curvas gigantes e intermináveis, de deitar a moto e entortar o cabo.
A paisagem ao redor me trazia novamente as colinas arredondadas, com alguns afloramentos de rochas, que a cada curva se mostravam mais e mais, até que, novamente, me vi parando a cada 10 minutos para fotografar.
Quando a estrada emparelha com o Río Limay... pára... que coisa mais linda!
Imagine um cenário de parque temático, rochas monumentais como uma plantação de obeliscos, em meio à fileiras de pinheiros e um rio esverdeado correndo entre às pedras. Agora pense que isso tudo não é feito de fibra de vidro e que o engenheiro responsável foi Deus.
Veja as fotos depois!
Passadas 1h eu só tinha conseguido avançar 75 km, e a preocupação com o horário não me fazia parar de fotografar e filmar.
O Río Limay se torna uma enorme lagoa verde, logo após uma formação rochosa chamada Dedo de Deus, por subir em uma coluna cerca de uns 20 m de altura no alto de uma montanha... simplesmente espetacular.
Nessa mesma lagoa havia um posto de gasolina que por causa do horário, resolvi seguir e ainda brinquei comigo mesmo, dizendo que aqueles 75 km já rodados fariam a diferença lá na frente.
Acho que devo levar mais a sério minha intuição!
A estrada continuou sinuosa por mais alguns km até que as retas e os pampas surgiram novamente levando as montanhas para longe momentâneamente, pois não demorou muito para que elas grudassem novamente na estrada, mostrando agora cortes transversais do tempo.
Incríveis marcas ondulantes na rocha, testemunho que a Terra já foi mais líquida e severa.
Montanhas enrugadas, sobrepostas davam a entender que não somos nada, apenas um sopro de vida passando, ao qual respondem com indiferença.
Por falar em sopro, o vento foi consumindo minha gasolina e no meio do nada a reserva abriu.
As placas indicavam cidades que na verdade eram agrupamentos de camponeses criadores de cordeiros e gado, sem o menor sinal de posto de combustível no horizonte.
Aqueles 75 km estavam fazendo a diferença.
Reduzi para 70 km/h e fui seguindo na esperança de um milagre, e ele veio na exata hora em que vi uma casinha na entrada de um povoado chamado Cortadeiras e perguntei por “nafta”, esperando a distância para Zapala.
A resposta foi 5L de gasolina por $ 45,00 Pesos (R$ 21,00 – R$ 4,00 o litro na época).
Abasteci 5L e dali segui mais 60 km até Zapala, castigado pelo vento, chegando novamente na reserva.
Após esse sufoco, tive boas notícias do frentista que me informou que haviam apenas 50 km de rípio, muito ruim e que carros passavam a 20 km/h.
Orientou-me a abastecer apenas em Barrancas, pois os postos até lá costumavam misturar água na gasolina.
Ainda faltavam 400 km, e já era mais de 17h.
Segui pelo Vale dos Vulcões sem resistir as paradas para fotografar e filmar.
Entre as paisagens interessantes, uma me chamou bastante a atenção, uma parede cortada por conta da passagem da Ruta 40, revelava camadas e camadas de rípio e lama, como se fosse um bolo com vários recheios... impressionante.
A estrada encontrou o Río Colorado e mais uma vez começou um zigue-zague até que em 36 km o rípio começou. Em 10 minutos consegui avançar 7 km, bem abaixo da minha média que era de 1km por minuto.
Isso se deu por conta do péssimo estado do rípio, repleto de costela de vaca que faziam a moto pular e sacudir, e com a areia, escorregar pra lá e pra cá.
Agora dava pra entender por que carros passavam a 20 km/h... eu estava nesta velocidade média enquanto o Sol baixava cada vez mais, até que colocou o vale em que eu estava numa sombra sinistra.
O rípio foi me conduzindo pelo Vale de Payunia, com incríveis rochas expelidas por erupções vulcânicas, de um vulcão que de tanta atividade, implodiu e sumiu, deixando campos de pedras negras retorcidas.
O fim desse trecho veio em exatos 50 km, depois de 1h30, e de presente ganhei a vista da Passarela, uma fenda no campo de rochas vulcânicas construída por um rio de corredeiras fortes.
Deste ponto foram mais 100 km por uma estrada que alternava asfalto velho e esburacado, até se transformar em rípio e virar piso lisinho de novo.
Como o Sol por aqui se põe bem tarde, cheguei em Malargüe por volta das 22h20 – horário local, com a luz do dia, como se fosse umas 19h no Brasil.
Cansado após 13h e mais de 950 km... me sentia realizado e agradecido por uma paisagem tão espetacular e um dia de tirar o fôlego.