ADEUS RÍPIO?
Cidade: Esquel/AR | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 27/12/2012
Hoje pela manhã descobri que as fotos que tinha deixado subindo para o Flickr não foram, bem como o artigo sobre o dia anterior... conclusão, "bora" trabalhar no café da manhã, mas a espelunca que eu fiquei cobrava café a parte, e na boa, pagar por torrada com manteiga e café ralo... não obrigado!
Terminei de trabalhar e fui abastecer e na sequência passei numa padaria e comprei uns folhados com queijo deliciosos, e juntamente com uma coca-cola foram meu “desayuno”.
Segui para estrada, mas entrei errado na rotatória e acabei dentro de um posto da YPF, e quem eu encontro? O Guilherme e a Flávia, que tinha encontrado dias antes no posto policial em Río Gallegos, eu seguindo para El Calafate e eles para o Ushuaia.
O mundo é mesmo pequeno.
Ficamos um bom tempo conversando sobre estradas e pontos turísticos, até que chegou outro brasileiro de Santa Catarina, mas de carro, querendo informações sobre o rípio até El Calafate.
Dei-lhe dicas e perguntei como estava o rípio até Río Mayo; ele me respondeu que era o pior possível e que de carro ele andou a 30 km/h.
Fiquei arrepiado! De moto então eu ia ter que empurrar!
Mais uma vez nos despedimos e segui rumo a Esquel, acerca de 550 km e com muitas informações perdidas. O Ruta 0 informava que seriam mais de 300 km de rípio, já o dono do hotel e o brasileiro do posto, uns 40 km.
Lá fui eu preparado para o que viesse e os primeiros 90 km foram de asfalto suave, com muito pampa dos lados da pista e alguns guanacos estúpidos, aliás, hoje um quase me mandou pro saco. Estava a uns 130 km/h quando de repente vi um guanaco a uns 20 m de distância. Comecei a desacelerar e buzinar para assustá-lo. Funcionou, mas ele começou a correr ao meu lado e subir na pista... tive que mudar de faixa já freando por que o idiota estava certo de cruzar a estrada na minha frente. Não tirei o dedo da buzina até que o tico e teco funcionaram e ele mudou de direção correndo para o campo.
A esta altura eu tinha recebido uma dose de adrenalina muito melhor que qualquer café da manhã e quando chegou o rípio eu vibrei... YES!
O início foi bem difícil com pedras grandes soltas. Esses trechos fazem a moto ir para onde ela quiser. O segredo é soltar a mão do acelerador e deixar a moto pensar que está no comando, depois você começa a pisar no freio traseiro bem devagar e sem que a moto perceba, volte a respirar e conduza-a suavemente para um caminho feito pelos carros.
Quase sempre funciona. Comigo pelo menos sempre deu certo.
Foram 43 km que fiz bem tranquilo, parando bastante para filmar e fotografar, quase que me despedindo do rípio, e com certa saudade dele. Neste tipo de estrada não há descanso um segundo sequer e por conta disso não existe tédio.
O rípio me levou até a cidade de Río Mayo, em aproximadamente uma hora. Ele adentra a cidade e cobre muitas das ruas de poucas quadras.
Abasteci e pedi informações sobre como sair dali. O frentista do posto me disse para pegar a Ruta 22, já que a Ruta 40 seguia em mais 180 km de rípio e que tudo estava alagado por conta das chuvas das noites anteriores, deixando um caminhão atolado, e somente seria resgatado quando a lama secasse.
Por que continuar não é mesmo?
Quando voltei para a estrada encontrei uma placa para esquerda indicando a Rua 40 e uma para esquerda indicando a Ruta 22, acontece que em alguns metros a contagem de km era continuação da Ruta 40, e o que é pior, logo depois veio uma placa indicando que ali era a Ruta 40.
Como eu podia estar numa estrada que estava em outra direção?
O fato é que era ela mesma, e continuei seguindo as placas por uma Ruta remendada e com o asfalto quebrado e acostamentos esfarelados, muito parecido com algumas estradas de Minas Gerais. Além disso, o Vento Patagônico também sopra por estas bandas, e me deu algumas boas varridas até chegar à Gobernador Costa.
A esta altura, por conta do vento já estava quase na reserva e para minha surpresa, no único posto da cidade não tinha combustível. O próximo só em Tecka a uns 90 km, e no meu destino final - Esquel, ainda a 189 km.
Os amigos vão se perguntar, mas e o galão de reserva do dia seguinte? Então, abasteci a moto de manhã com os cinco litros que havia nele e joguei fora. Esperto não?
Rodei os 90 km a uns 70 km/h, fazendo cálculos no caso de não haver gasolina em Tecka. Nas minhas contas meu tanque secaria faltando uns 30 km, então eu teria que arrumar gasolina de todo jeito.
Muitos carros passaram por mim em direção a Tecka, bem acima do normal, e quando cheguei na cidade, entendi o motivo da correria, o posto da YPF estava com duas filas grandes, todos ávidos por “nafta”.
Entrei na fila e, quando abasteci, foram 19 litros.
Dali, a Ruta 40 me presenteou com curvas belíssimas com a Cordilheira dos Andes cada vez mais perto.
Amanhã sigo para Bariloche!