12º DIA - CALOR, BURACOS E QUEDAS
Cidade: Villa Montes/BO | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 11/8/2011
O nosso 12º dia de viagem daria para escrever um livro, e creio que os apaixonados por aventura estariam satisfeitos e loucos para voltar pra casa.
Nosso roteiro previa terminar o Chaco Paraguaio e entrar na Bolívia até Monteagudo – o percurso daria cerca de 640 km mas tínhamos algumas dúvidas quanto a qualidade das estradas.
O pressentimento estava certo!
Rodamos até Mcal. José Félix Estigarribia onde se encontra a Migración para dar baixa na nossa entrada no Paraguai. Lá nos foi informado que em Mayor Infante Rivarola, ficava a aduana Boliviana, então já tínhamos destino certo... as dificuldades.
Quando ligamos as motos em Filadelfia era aproximadamente umas 8h30 da manhã, quando o Santana chegara com seu molho de chaves perdido mas sem justamente a chave do baú GIVI.
Até a migração foram deliciosos 75 km de retas intermináveis na Ruta 9... mas depois da migração... começaram a surgir tímidos buracos recheados de areia, que aos poucos foram se multiplicando até formarem mais de 100kms de estrada esburacada... mas pensa num buraco que caiba uma moto... alguns cabiam duas.
O Sol estava de rachar o coco e já viajávamos só de colete! Um erro terrível!
Duas horas depois conseguimos atingir novamente o asfalto “bom” e ainda tínhamos mais 110 km até a fronteira.
Nossa última refeição tinha sido o café da manhã e no relógio já se iam 15h quando tudo começou a ficar escuro. Sentia minhas mãos formigarem e uma secura na boca sem precedentes. Minha pressão estava no chinelo.
Avisei a Elda que estava mal e, foi o tempo de desligar a moto e ao tentar descer dela, cai no chão e fiquei...
Acho que naquela hora o calor era mais ameno, coisa de uns 35C°... enfim, fiquei estirado uns 20 minutos até que consegui me levantar.
Montado na moto sem a Elda, que foi na moto do Jeová, paramos numa propriedade para pedir água... era o que eu precisava... 100% na ativa, seguimos para Fronteira.
Na Migración fizemos nossa entrada e nos foi entregue um papel que será constantemente cobrado nas fiscalizações das aduanas pelo país.
Lá soubemos que deveríamos seguir para Ibibobo a cerca de 60kms para pegar os “Permissos”, o detalhe é que esses 60 km era por uma estrada que eles chamam de rípio mas que na verdade é de pedra de rio e areia... e paralelo a essa estrada, existe uma construção que já recebeu a primeira camada de piche mas que não pode ser transitada.
No primeiro KM conversando com o Jeová e rindo, meti a V-Strom numa vala de areia fina e a moto começou a sair de frente e não teve jeito... fomos para o chão.
A Elda conseguiu se livrar rapidamente, mas meu pé ficou preso entre o quadro e o baú lateral e me arrastou enquanto torcia meu tornozelo e joelho.
Doeu!
Fora isso, abri um rombo na mão esquerda, pois pilotava sem luvas por conta do forte calor... muito esperto!
O Jeová e o Santana levantaram a moto e consegui sair.
Deste momento em diante colocamos as motos na pista semi asfaltada e rodamos até uma base do exército que nos mandou encostar.
Fomos muito bem tradados e explicamos o ocorrido e tivemos autorização para rodar pela estrada ainda em construção... mas isso só durou poucos 20kms e logo voltamos pelo rípio pois nesta estrada existem várias barreiras com troncos de árvores e bancos de areia para que ela não seja usada.
Rodamos até Ibibobo com os tanques na reserva e conseguimos chegar por volta das 20h na Migración onde inicialmente fomos recebidos com certa ríspidez e cobrados pelas baixas dos “permissos” paraguaios.
Alegamos que não tínhamos e foi solicitado a carteira de vacina de febre amarela... a internacional que o Santana não achava... pagamos por isso.
Permissos na mão, o atendimento mudou da água para o vinho... sorrisos, dicas e macetes nos foram dados seguido de um “saiam daqui”.
Numa barraquinha tipo bar que eles chamam de tenda, compramos gasolina a US$1,00 o litro.
Aproveitamos para tomar uma cerveja e comer um salgadinho já que estávamos somente com o café da manhã.
Depois disso, seguimos para o rípio, às 21h começamos mais 60kms no breu e na areia, rodando a 20km/h.
Há uma certa altura, eu seguia na frente e o Jeová que vinha atrás com a Elda começou a dar sinal de luz... parei e, cadê o Santana?
O Jeová voltou enquanto a Elda ficou comigo e encontrou o Santana caído numa vala de areia com a moto por cima... sorte que como é uma Twister 250, não houve estragos como no meu tornozelo e mão.
Continuamos a viagem e quando era próximo da meia noite chegamos no asfalto.
Ali, os planos para seguir até Monteagudo tinha ido por terra e nos refugiamos em Villa Montes, mais uns 25 km de asfalto (graças À Deus).
Já passava das 13h de viagem quando encontramos um hotel bem xexelento a US$25 sem café da manhã.
Tomei uma ducha, tirei a bota para examinar o tornozelo inchado, e saímos em busca de comida... e só conseguimos cervejas e uma água... tudo estava fechado e dormimos de barriga vazia e completamente moídos.
Depois de 465 km, sendo 100 km de buracos e 110 km de terra... chegamos bem.