UM DIA DE PERRENGUE - PARTE 2
Cidade: Roque Sáens Peña/AR | Categoria: Diário do Piloto
Revisado em: 16/08/2017
Logo cedo, liguei para uma concessionária em Salta, a mesma em que troquei o pneu da DUCATI Multistrada em Abril/15 quando vim para os lados do Atacama guiando um grupo, e a notícia não foi nada boa.
Não havia pneu traseiro em estoque na medida 190/55/17, e disseram que em 4 ou 5 dias poderiam trazer de Buenos Aires e me custaria a bagatela de $ 5.800 Pesos Argentino, ou cerca de US$ 610,00.
Assim sendo, nossa opção era seguir viagem com cautela, em baixa velocidade e evitando as pedras na estrada.
Saímos rumo à Resistencia, numa missão bem difícil, rodar mais de 850 km, cruzando o Chaco Argentino, famoso por suas retas intermináveis, temperaturas altas e o temor da falta de gasolina e cidades distantes uma das outras.
Novamente sai marcando no velocímetro a quilometragem de cada borracharia pela qual passávamos, e como as Leis de Murphy sempre se aplicam em viagens de moto, o meu medo de encontrar pedras no caminho só não se tornou realidade, com um pesadelo após passar a cidade de Tolloche, quando obras na pista me lançaram em quilômetros e quilômetros de terra e pedras, o que fez a nossa velocidade diminuir ainda mais, na casa dos 30 km/h com o foco no chão, desviando de pedras maiores e com uma enorme vontade de flutuar.
Conseguimos milagrosamente atravessar esse trecho sem danos no pneu, em compensação os nervos seguiam tensos à flor da pele.
Ao passar por Taco Pozo, novamente a corrente caiu, e desta vez ficou presa em um parafuso da coroa, causando uma pequena torção.
Fiquei bem preocupado, pois estava no meio do nada e com pouco dinheiro na carteira.
Mais uma vez comecei a tentar ajustar a corrente e ao ver uma moto se aproximando, fiz sinal e um rapaz que levava um senhor na garupa parou em meu auxílio.
Mostrei a situação e disse que tinha uma coroa (corona) para substituir. Ele me informou que em Taco Pozo havia um mecânico muito bom que poderia fazer o serviço. Pediu que o esperasse, pois ele levaria o senhor até Monte Quemado (35 km adiante) e voltaria para me levar até lá.
Quando ele partiu, terminei de arrumar a corrente e fiz uns testes... tudo ok, coloquei a Elda na garupa e comecei a voltar para Taco Pozo (16 km) andando bem devagar. Quando vi duas motos grandes vindo em minha direção.
Encostei e fiz sinal para os Catarinenses Jorge e Lírio que pararam para nos ajudar.
Eles nos sugeriram seguirmos juntos até Roque Sáens Peña, mas seriam mais 350 km e com aquela corrente torta e a coroa praticamente banguela, não conseguiríamos acompanhá-los, além de atrasar a viagem deles.
Disse que voltaria para Taco Pozo para trocar a coroa, e eles nos acompanharam até a oficina de onde nos despedimos com a promessa de nos reencontrarmos na estrada.
Rapidamente o mecânico Carlos logo me atendeu, e expliquei que precisávamos trocar a coroa, mostrando como fazer, e que tinha as ferramentas necessárias para isso, inclusive a chave de boca de 55mm que comprei antes da viagem... ideal para trocar coroa e pneu.
Enquanto ele começava o serviço, fui até um caixa eletrônico para sacar dinheiro e para o meu desespero, o sistema não estava funcionando direito e não fazia conexão com o Visa Plus e não me liberava um centavo sequer.
A situação era complicada, pois eu não tinha dinheiro para pagar o mecânico e tão pouco para gasolina até Resistencia, neste ponto distante a 550 km.
Na verdade eu tinha autonomia para apenas 125 km.
Voltei para oficina preocupado e já disse ao Carlos que o banco não funcionava e que teria que ir até Monte Quemado tentar sacar dinheiro por lá. Ele concordou e ao terminar o serviço me questionou se eu não tinha nada em dinheiro.
Mostrei a ele meus poucos Pesos Chilenos, Bolivianos, Reais e 10 Dólares.
Ele queria US$ 100,00 pelo serviço, mas fechamos por CH$ 29.000 e os US$ 10,00 – R$ 210,00 no fim das contas.
Seguimos nosso caminho com a coroa nova, mas com a velha corrente e o mesmo pinhão, já que por essas bandas não existem motos maiores que 150cc.
Quarenta quilômetros depois, entramos em Monte Quemado e começamos a circular em busca de um caixa eletrônico, e pedindo informação em um posto de gasolina, um senhor que abastecia seu carro disse que nos levaria até lá.
Nos guiou pela cidade e quando chegamos no banco, fiquei gelado, pois era a mesma agência de Taco Pozo, logo, o mesmo sistema.
Enquanto eu entrei, ele ficou conversando com a Elda na calçada e não demorou muito para eu ver na tela a mensagem que a minha operação não poderia ser completada.
Sai do banco arrasado... como poderíamos continuar a viagem com menos de 100 km de autonomia e sem conseguir sacar dinheiro nos caixas?
A continuação desta história está nas páginas do livro TAQUEOPARIU - O outro lado das viagens de moto - que narra apenas os perrengues vividos nas nossas últimas viagens.
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