DE FALHAS GEOLÓGICAS AO PÔR-DO-SOL NO MAR
Cidade: Mâncora/PE | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 5/9/2015
Nessa noite, nem eu nem a Elda conseguimos dormir direito, efeito direto de muitos dias de viagem que afeta o corpo até mesmo de quem está acostumado com essa rotina.
Acordamos tarde, por volta das 9h30 da manhã (horário local) e depois de uma hora estávamos na moto saindo de Cuenca.
A cidade estava vazia, como se fosse um feriado ou final de semana. O Centro Histórico estava deserto e foi muito fácil se locomover.
Paramos em um posto para abastecer e fazer um lanche, já que o nosso hotel não servia café da manhã, e em seguida pegamos a estrada com nostalgia por deixar o Equador.
Estávamos com sede de curtir pela última vez suas curvas em serras intermináveis, e até conseguimos isso nos primeiros 45 km... depois de Girón o asfalto começou a ficar muito ruim, por que entramos em uma zona de Falhas Geológicas Ativas, o que causa rachaduras na pista, afundamentos e calombos enormes.
Somando a isso um pouco de descaso do Governo em realizar a devida manutenção, salvo pequenos trechos em obras e pedras na pista por conta de desmoronamentos, fez nossa velocidade cair significativamente por longos 60 km.
Esse trecho foi durante uma Cordilheira que não tínhamos visto até então no Sul do Equador, na rocha pura... paredes enormes erguendo-se sem nenhuma vegetação, justamente na região pela qual entramos semanas atrás, e demos de cara com florestas exuberantes.
Ver aquela aridez, aquele monte de pedra só não foi mais interessante quanto presenciar nuvens baixando na pista no momento em que a paisagem mudou em apenas uma curva, do puro deserto à densa floresta e plantações de banana.
Caprichos de Deus que pudemos testemunhar.
Deixando as rochas, a estrada até que melhora, mas só depois de Pasaje que volta a ficar tapete e segue até a Aduana.
Na fronteira, 220 km depois, feitos em mais de 3h30, demos a baixa na Migracão Equatoriana – por sorte um ônibus de turistas estava na nossa frente – e depois entramos na Migração Peruana, quando fomos reconhecidos pelo funcionário que semanas antes fez a nossa baixa no outro passo aduaneiro.
Migração concluída, fomos para a Aduana no Equador dar a baixa na moto, um trâmite muito simples onde bastou entregar a autorização para dirigir e pronto, e logo depois já fomos para a Aduana do Peru.
Esperamos cerca de 10 minutos para ser atendidos e duas coisas me chamaram a atenção.
A primeira foi que depois de assinar o permiso para pilotar com a minha moto no Peru, o oficial veio com uma almofada de carimbo e pediu que eu pintasse o meu dedo indicador e carimbasse do lado da minha assinatura.
Juro que nunca vi tal procedimento... não sou analfabeto e o documento já constava minha assinatura... enfim.
A segunda coisa que me chamou atenção, e até me deixou feliz, foi o fato de que não me pediram para passar a bagagem pelo scanner. É um saco ter que carregar cerca de 70 kg da moto até a aduana e depois voltar para moto.
Liberados, partimos depois de 1h de trâmites... para quem chegou depois de um ônibus de turismo, não temos do que reclamar.
Eram 5h quando deixamos o passo aduaneiro com cerca de 130 km até a cidade de Máncora, a mesma em que ficamos antes de seguir para o Equador.
Na estrada presenciamos o pôr do sol no Pacífico, depois de rodar quase 4.000 km sem ver o mar.
Amanhã tem mais estrada.