ARMERO, A CIDADE DEVASTADA PELO VULCÃO DEL RUIZ

27º dia de viagem
Cidade: Manizales/CO | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 28/8/2015
Diário de Motocicleta

Hoje nosso objetivo era rodar cerca de 420 km entre as cidades de Neiva e Manizales, e segundo o Tio Google Maps, o caminho seria suave, com grandes retas e se tudo desse certo, sem trechos de terra. Mas o roteiro na verdade tinha um ponto mais interessante do que retas e curvas sequenciais... a cidade de Armero, ou o que sobrou dela.

Logo que deixamos Neiva, o retão surgiu com o calor que bateu a casa dos 36˚C mesmo viajando à 135 km/h... era um vento quente que nos fez suar.

Paramos em Espinal, depois de uns 150 km que percorremos em pouco mais de uma hora e meia... me lembro de ter sorvido uma garrafa de coca-cola quase que instantaneamente, enquanto a Elda comia um sanduíche de jámon & queso.

De volta à estrada, as retas continuaram a nos ajudar a avançar rápido, e o baixo número de caminhões tornou cada curva uma adrenalina a mais... por três vezes raspei a ponta do pé no asfalto... preciso me policiar com a posição do pé direito.

O semiárido em meio ao vale que percorríamos, oferecia montanhas ao fundo, campos secos e carreiras de árvores que ladeavam a pista, e em muitas vezes formavam túneis espetaculares que, quando me dava conta, a velocidade quase caia pela metade... uma vontade danada que aquilo não acabasse.

Quando as árvores acabaram, vimos o primeiro edifício de dois andares, quase que no nível da pista, soterrados até a metade... era o antigo hospital de Armero.

Paramos imediatamente diante do pobre museu, uma iniciativa de uma sobrevivente do desastre que se abateu sobre a cidade, e que conta em fotos, e testemunho pessoal, o que aconteceu naquela trágica noite de 13 de Novembro de 1985.

Era uma noite chuvosa, com muitos trovões que camuflaram as explosões do Vulcão Nevado Del Ruiz, que acordava depois de quase 70 anos.

A população na época, cerca de 28 mil habitantes, estavam dormindo quando por volta das 23h30, uma enxurrada causada pela erupção, trazendo gelo derretido com lama e árvores, atingiu a cidade cobrindo-a com 30 m de escombros a uma velocidade de 12 m/s durante mais de 10 minutos.

Esse primeiro impacto matou 3/4 da população.

Pouco tempo depois, uma segunda enxurrada veio com mais violência, viajando a 6 m/s com duração de 30 minutos.
Como se não bastasse, a última veio com pedras do que restou do cume do Vulcão, que esmagou tudo pela sua frente.

A cidade de Armero foi a primeira a ser atingida e matou cerca de 25 mil pessoas, a maior tragédia natural do século 20.
Chinchiná também foi atingida, totalizando mais de 29 mil mortos.

O símbolo dessa catástrofe foi a menina Oymara Sánchez, na época com treze anos, que ficou soterrada até acima da cintura e agonizou por 60 horas, já que os socorristas só conseguiram chegar na cidade 12h depois do desastre.

Fizeram de tudo para libertar a menina dos escombros, e até pensaram em lhe amputar as pernas, já que nada dava resultado.

As emissoras de TV focaram na menina e acompanharam suas últimas horas de vida, enquanto ela dizia sentir frio e sede, que com seu pé podia sentir a cabeça de sua tia, que cuidassem da mãe dela, por que a mesma estava em Bogotá e ficaria sozinha (o resto da família toda havia morrido).

A menina ainda lamentava que naquele dia haveria prova de matemática e que todos poderiam ir dormir um pouquinho, mas que voltassem logo para tirá-la dali.

Oymara morreu ali mesmo, e hoje seu túmulo é ponto de peregrinação, pois muitos atribuem a menina vários milagres.

Ao redor de onde era a cidade, algumas construções permanecem de pé, ainda que pela metade.
A praça central foi desenterrada e no seu centro foi erguido um monumento e uma cruz, onde João Paulo II rezou pelas vítimas de joelhos.

Ao lado da praça, apenas a cúpula do campanário da matriz jaz sobre a calçada... ela foi resgatada à cerca de 4 km de distância, apenas um pedaço e nada mais.

Milhares de pessoas estão soterradas sobre 30 m de escombros, e até hoje o Governo Colombiano não admitiu a falha em alertar a população da eminente tragédia, já que vários órgãos e especialistas avisaram sobre a ameaça.

Nem mesmo a Cristina, que mantém este simples museu contando com fotos do que era Armero e no que se transformou, foi ressarcida pelos danos materiais, e o fato da família toda ter sobrevivido, lhe serve de consolo.

Seguimos viagem em silêncio até Manizales, em meio as curvas que voltaram a nos jogar pra lá e pra cá durante mais duas horas.

Ao longe vimos o Nevado Del Ruiz que depois de passados 30 anos da sua última chacina, resolveu acordar e está soltando fumaça há quase dois meses.

Amanhã vamos visitá-lo.

fotos relacionadas
Consulte Também...
Parceiros neste projeto