O INÍCIO DA BR-319

39º dia de viagem
Cidade: BR-319/AM | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 14/9/2013
Diário de Motocicleta

Começamos o nosso 39º dia da viagem seguindo para a BR-319, uma das piores estradas do Brasil, se não do mundo.

Há várias histórias sobre esta estrada, uma delas conta que na época de sua construção, na década de 60, o negócio dos barqueiros que movimentavam o comércio entre Manaus e o Porto Velho pelo Rio Madeira entrou em declínio e estes contrataram jagunços para destruir a estrada... este vandalismo dizem que durou 10 anos, onde o asfalto foi arrancado na enxada e pontes foram dinamitadas. O resto, a Floresta Amazônica pegou de volta.

História ou não, essa era a nossa rota rumo ao Centro-Oeste do Brasil, além disso, queríamos registrar as condições da estrada que segundo exigências da FIFA, deve estar asfaltada até o mundial, já que toda cidade sede (no caso Manaus) deve ter uma saída por terra.

É fato que ela não estará pronta. Com 885 km entre Manaus e Porto Velho, pouco mais de 400 km de cabeceiras encontram-se asfaltadas... o resto... bem, fomos conferir na tola inocência de percorrê-la em dois dias.

Li um relato de um casal da Colômbia que à bordo de uma Apache 180 saiu para uma volta ao mundo e entrou na BR-319 no mês de março... a previsão era de quatro dias, mas levaram dezoito, isso porque escolheram a época das chuvas, o que certamente tornou um inferno muito maior daquele que presenciamos.

Escolhi Setembro por ser época de seca no Amazonas, embora chuvas ocasionais ocorram sempre e, se tratando de Floresta, um sereno pode causar uma poça de lama.

Embarcamos rumo à Careiro em uma balsa ao custo de R$ 10,00 (US$ 4,37) que cruza o encontro das águas do Rio Solimões e Negro e que leva uma hora para nos colocar de fato na 319 (ela começa em uma rotatória em Manaus). Os horários em dia de movimento são a cada hora... perdemos a balsa das 9h e somente ao meio dia teríamos outra, por sorte um outra balsa aportou e como não levava combustível, pudemos embarcar às 11h.

Consegui fotografar o encontro subindo em um caminhão, mas não fui rápido o bastante para clicar os botos que vez ou outra surgiam escoltando a balsa.
Uma vez em Careiro, já passava do meio dia quando tiramos a foto que ilustra esta matéria e seguimos felizes da vida... prontos para o desafio que nos aguardava.

Até a parada em Castanho para último abastecimento e reserva de gasolina (levei 6 litros) não havia novidades... asfalto de bom a regular com pouquíssimo movimento.

Desse ponto em diante, o exército está atuando nas obras da 319 e máquinas na pista deixam a BR lisinha, só que no barro. Nossa sorte foi ter motocado em um dia de Sol forte, pois ficamos sabendo durante a viagem, que carros saem da estrada deslizando na lama fina... imagina de moto!

Na altura do 160 km passamos a primeira torre da Embratel que segundo informações se repetiam a cada 50 km... mas não é bem assim. A próxima surgiu no 197 km e a seguinte somente depois de Igapó Açu, nosso objetivo do dia.

Mas antes tínhamos que começar os testes para o que viria nos próximos dias. Logo após as obras do exército, os buracos começaram... na verdade, trechos de asfalto de 50 anos esburacados e trechos de terra com atoleiros. Por conta da época quase todos secos, mas com valas enormes que por diversas vezes fez com que a Elda descesse da garupa para estudar o melhor caminho.

Usamos, essa tática também para as pontes que de forma bem tímida surgiram no primeiro dia... na verdade cruzamos apenas uma, as outras duas estavam interditadas com desvio ao lado.

Essas pontes foram construídas ao longo do tempo, pois na obra da BR-319 foram usados tubos de ferro para conduzir as águas dos igarapés que margeiam grande parte da estrada de um lado para o outro. Com o passar dos anos, a força das águas ultrapassaram o nível da pista e levaram aterro e tudo para dentro da mata... o jeito foi improvisar pinguelas que até hoje são usadas. Passamos por uma centena delas ao longo do caminho.

Por volta das 17h20 chegamos à comunidade de Igapó Açu e ao tentar parar a moto, a roda da frente deslizou em uma vala e tombamos pela primeira vez. Logo um rapaz veio me ajudar a por a moto de pé, pois do jeito que tombou em uma ladeira, acho que só desmontando ela inteira conseguiria sair dali. Nenhum dano e ninguém machucado.

Igapó Açu possui pouco mais de 60 habitantes, mas com uma em especial, Dona Mocinha, proprietária do único restaurante pousada que abriga moto viajantes e outros loucos que se aventuram pela 319. Os quartos são super simples, não tem café da manhã e o banho gelado é à parte... não precisávamos de mais nada. Entre armar a barraca no jardim e dormir em uma cama, fomos para nosso quarto e enquanto a Elda descansava, fui conhecer alguns hóspedes como um Lituano em viagem pelo mundo desde 2011 e um casal da Suíça de férias há 11 meses pela América Latina.

Com o casal consegui conversar bastante, pois ambos eram fluentes em espanhol, já o Lituano foi mais difícil e conversamos mais olhando mapas que outra coisa.

Dormimos cedo e confiantes, já que no primeiro dia tínhamos percorrido 262 km... estava fácil demais.

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