Depois de ter experimentado o inferno debaixo de chuva, frio e ventos que me acompanharam até Puerto San Julián, o dia amanheceu com céu azul e Sol firme.

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O DIA DO "QUASE"

15º dia de viagem
Cidade: Río Gallegos/AR | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 18/12/2012
Diário de Motocicleta

Depois de ter experimentado o inferno debaixo de chuva, frio e ventos que me acompanharam até Puerto San Julián, o dia amanheceu com céu azul e Sol firme.

Aproveitei para fazer um rápido turismo, já que San Julián é o local da 1ª Missa realizada na Argentina, tal qual Santa Cruz Cabrália/BA no Brasil.
A cidade oferece pouco turismo, mas mesmo assim interessante e que vale conferir.

Visitei a "Nao Victoria", réplica do barco que Fernão de Magalhães usou para dar a primeira volta ao mundo e que aportou em San Julián em 1520 – dez anos antes da cidade onde moro, São Vicente/SP ter sido fundada.


Bora motocar


Feito o passeio pelo Museu embarcação, abasteci e fui para Ruta 3 rumo a Río Gallegos, distante 360 km dali.

Este trecho da Ruta 3 é muito gostoso, repleto de curvas que tornam a viagem bem mais divertida, porém é preciso atenção com os Guanacos, parentes das Lhamas que tem por aqui na Patagônia. Em especial neste trecho, muitos foram vistos próximo à rodovia, e nunca se sabe o que um ser tão inteligente pode fazer ao ver uma moto vindo à 120 km/h, portanto vale a pena reduzir e deixar o bichinho pensar se volta para o pampa ou se atravessa a pista... e pela quantidade de corpos ao longo da Ruta 3 é de se acreditar que ele pule na sua frente tranquilamente.
Passados uns 50 km, parei no Gran Bajo San Julián, a maior depressão do Hemisfério Sul e a 7ª maior do mundo, chegando a 107 m abaixo do nível do mar e com uma área de 2.900 km², realmente impressionante.

Cerca de 130 km de ter saído de San Julián, cheguei numa cidadezinha chamada Piedra Buena e passei por um posto YPF com uma janela repleta de adesivos, mas não parei, ainda tinha autonomia e as placas me indicavam Le Marchand à 100 km e Aike Guer a uns 180 km, sendo que faltavam 230 para Río Gallegos... então bora motocar.

Boa parte do trecho o vento não incomodou, o que foi possível acelerar na casa dos 140 km/h, coisa que não tinha feito muitas vezes desde que entrei na Argentina. Mas não adianta comemorar nada na Ruta 3, se você vibra com as curvas, toma retas, se agradece os ventos amenos, toma rajadas, e não demorou para eu começar a andar com a moto deitada.
Mas a maior surpresa estava por vir. Quando finalmente cheguei a cidade e Le Marchand para abastecer, não é que a danada é um Hotel e não cidade!
Não precisa nem dizer que não tinha posto e para melhorar, minha reserva tinha acabado de entrar. Perguntei para uns oficiais parados no hotel e me disseram que somente em Río Gallegos, cerca de 130 km dali.

Pensa num cara rezando.

Fiz minhas contas e havia uma pequena possibilidade de chegar a tempo no próximo posto, e uma grande possibilidade de ter pane seca, bastava os ventos aumentarem.

Voltei para pista tocando a 80 km/h e quando a segunda fase da reserva entrou, faltavam 100 km e desci para 60 km/h, liguei o pisca alerta e fui o mais próximo do acostamento, uma vez que estes embora tenham uma camada de asfalto, são na grande parte cobertos por rípio solto.

Os ventos deram uma trégua, mas a cidade de Aike Guer não chegava, e na verdade nem precisava chegar, já que também não era uma cidade e sim uma comunidade agrícola que pelos caminhões e tratores nem valia a pena gastar a pouca gasolina no tanque para ir perguntar se tinham “nafta”.

Continuei contando os km e nesta reza eu já passava de 1h30 a passos de tartaruga tentando esquecer aquela janela coberta de adesivos do Posto YPF que “inteligentemente” não colei um adesivo meu.

Como em todas as cidades a beira da Ruta 3, antes de entramos, passamos por um posto de Controle da Polícia (Gendarmería Nacional Argentina) e comemorei ter chegado na cidade... mas é Ruta 3 e a maldição da comemoração recaiu sobre mim outra vez... Río Gallegos estava há 20 km de distância – eu juro que não precisava destes 20 mil metros.
Reduzi para 50 km/h e já era certo descer e empurrar a moto quando finalmente avistei o Totem do posto YPF.

Faltei beijar o frentista, mas não ia pegar bem, embora aqui é normal beijar os amigos no rosto quando se chega e quando se vai.

Abasteci exatos 20,51 L – tinha pouco menos de um litro e meio no tanque e se houvesse mais uns 20 km não conseguiria.

Passado horas de tensão, relembrei a minha máxima que diz “abasteça ainda que 5 km depois do último posto”!

Estou hospedado aqui e parto amanhã para o Ushuaia. O tempo virou, está mais frio e nublado... espero amanhã uma nova virada, para melhor.

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