TOUR PELO SALAR DO UYUNI
Revisado em: 28/10/2017
Ontem quando chegamos em Colchani (23 km a frente da cidade de Uyuni) a Elda já não estava se sentindo bem, com a boca amarga, certamente por conta de uma Quesadilla Mexicana que comeu na noite anterior – quem manda não comer comida típica Boliviana? Simon Bolivar deve ter lhe rogado uma praga (rs).
Brincadeiras a parte ou você tem um estômago de pombo e encara qualquer coisa, ou uma zuada no fígado pode te tirar da brincadeira.
Por sorte esta manhã, depois de muito repouso, leite e maçã – ela é adepta a não tomar remédios – levantou bem e disposta para motocarmos pelo Uyuni.
Saímos do nosso hotel em direção ao Cemitério de Trens e no posto de gasolina encontramos os amigos Adilson e seu filho André que estão motocando por essas bandas. Papeamos, falamos de estrada, fizemos fotos e nos despedimos... dali eles entrariam no Salar, enquanto nós bateríamos perna entre locomotivas.
A história é tão interessante quanto ver mais de 20 locomotivas enferrujando no deserto, em contraste com o céu azul intenso do lugar.
Em 1.888, no Governo do Presidente Aniceto Arce, a Bolívia estava no auge da produção de estanho, prata e cobre, e para escoar essa produção, investiu-se na construção desta rodovia, que vinha de Potosí a caminho do pacífico via o Porto de Antofagasta.
Porém o custo e tecnologia necessários para transpor uma linha férrea pela Cordilheria dos Andes era muito alto. Sendo assim, o Presidente Arce pediu ajuda à Inglaterra que forneceu vagões e passou a gerir o projeto.
Logo a ferrovia prosperou, porém, em meados de 1.920 a Bolívia perdeu seu acesso ao mar para o Chile e somado a escassez de minérios, a empresa entrou em colapso, e aos poucos as locomotivas e vagões foram descartados.
Foi essa história, ou o que restou dela que fomos visitar, e quando chegamos no Cemitério de Trens, encontramos centenas de almas... vivas.
A bagaça estava lotada de turistas, vindos em 4x4 de todas as partes, escalando as locomotivas, vagões, se embrenhando em cada canto... e fundamentalmente estragando nossas fotos (rs).
Até pensamos em voltar no dia seguinte de madrugada, tipo antes do café da manhã, mas preferimos andar um pouco além, por vagões que não são tão interessantes (para a massa) como as velhas locomotivas, e valeu a pena.
Além de umas fotos muito legais, quando voltamos o lugar foi se esvaziando como que por milagre.
Na verdade, as agências de turismo começam o tour do dia pelo Cemitério de Trens e partem para o Salar, então, entre 10h e meio dia, o lugar é um puleiro de gente... então fica a dica, vá depois das 12h ou antes das 10h que o lugar será só seu.
E foi o que aconteceu. Todos se foram e curtimos o lugar, fizemos fotos e voamos um pouquinho antes de retornar para o hotel recarregar as baterias e entrar definitivamente no Salar do Uyuni.
Existem vários caminhos, e creio que o nosso seja mais simples.
Seguindo para Colchani pela Ruta 30, na altura do KM 170, acesse uma via de terra a sua esquerda e siga por 5 km passando por costelas de vaca, que logo entrará no Salar.
Deste ponto em diante, motocamos seguindo as marcas deixadas pelos 4x4 e, em aproximadamente 15 km deserto adentro, chegamos no famoso monumento do Dakar, que fica ao lado do extinto Hotel de Sal e a Praça das Bandeiras – alguns chamam de Monumento às Bandeiras... enfim.
Fizemos fotos e quando vi alguns 4x4 saindo e entrando mais para o Salar, mirei a moto e parti... sabia que ali eu acabaria na Isla Incahuasi, distante cerca de 55 km.
Motocar no Salar é uma coisa de louco.
Por conta do tamanho da criança, e a falta de referências próximas, você anda, anda, anda e a sensação é que não conseguimos sair do lugar. Para ajudar, o horizonte turvo por conta do calor, dá a impressão que logo a frente uma chuva acabará de cair... mas é miragem.
Andei na casa dos 100 km/h, porque dependendo da via que você escolher, são muitos buracos abertos no piso, uns pequenos que não se nota, outros maiores que bocas de buerios sem tampa... fique sempre alerta e se quiser olhar a paisagem, tire a mão ou pare.
A Isla incahuasi – Casa do Inca em Quéchua – ergue-se no meio do nada e é coberta de cactos gigantes que medem em média 8m de altura (alguns chegam a 12m) e crescem aproximadamente 1cm por ano, ou seja, as plantinhas têm nada mais, nada menos que 1.200 anos... nem vira levar uma mudinha pra casa.
Na ilha encontramos um restaurante, um quiosque e se você quiser caminhar pelas trilhas, pode se cansar a mais de 3.600m pela bagatela de B. 30,00 (U$S 4,20).
Obviamente que nós pulamos esse esforço e nos contentamos com fotos externas, o que já é um espetáculo e vale a viagem.
Bem perto dali, em “escala salares”, encontra-se a Isla del Pescado, mas como vamos cruzar o Salar novamente em dois dias, deixamos algo para fazer depois.
Miramos a motoca de volta para o Hotel, e depois de 75 km estávamos de volta, justo na hora em que os amigos João e Alice estavam chegando de uma viagem difícil desde Tupiza – o relato do João dá conta de um trecho em obras de quase 100 km e dezenas de rios a serem atravessados, por conta da pista que ainda não possui pontes (info de OUT/2017).
Jantamos juntos, batemos longos papos, rimos e nos despedimos... eles ficam pelo Uyuni amanhã, enquanto nós nos despedimos por enquanto de vocês... ficaremos incomunicáveis pelos próximos dois dias.
Depois conto as novidades.