SUBINDO A CORDILHEIRA DOS ANDES
Cidade: Cochabamba/BO | Categoria: Diário do Piloto
Revisado em: 28/10/2017
Fomos acordados com um baita trovão que anunciou uma senhora chuva.
Mais um dia arrumando a moto com o tempo feio, mas pensa num feio... o céu no horizonte estava azulado de tão cinza... azul petróleo, manja.
Abastecemos por volta das 9h30, e partimos rumo à Cochabamba, cerca de uns 470 km pela Ruta 4, um dos trechos mais enjoados do roteiro, devido ao grande número de cidadezinhas ao longo do caminho, trânsito local, cachorros, crianças, caminhões e curvas.
Mal saímos do posto e o molho caiu com força.
O efeito colateral é conhecido, todo mundo começa a andar devagar, como se não soubesse para aonde ir, e aqui na Bolívia ainda existe um agravante, os caminhões podem andar em qualquer faixa e os motoristas pouco olham pelo retrovisor ou dão passagem.
Tomamos um banho ao longo de uns 70 km até Montero quando inexplicavelmente o céu se abriu... na verdade foram rajadas de vento que espalharam as nuvens e nos colocou para motocar de lado.
Em Buena Vista (110 km de Santa Cruz) abastecemos novamente, pois deste ponto em diante, apesar do surgimento de vários postos de gasolina nos últimos anos, ainda é comum a falta de combustível ou filas intermináveis.
Com o tanque novamente cheio, seguimos viagem com o objetivo de parar somente em Villa Tunari – 200 km a frente.
Esse trecho está em obras de duplicação há alguns anos e vem avançando consideravelmente, e agora, a surpresa foi encontrar boa parte da pista recapeada, com asfalto novo, o que nos fez ganhar tempo. Outro fator que agilizou nossa viagem foi o número reduzido de caminhões a serem ultrapassados.
Por volta das 15h chegamos em Villa Tunari (310 km de Santa Cruz), e fugindo ao padrão de nossas viagens, paramos para almoçar – dificilmente faço isso porque me dá sono comer e pilotar, mas minha barriga vinha roncando nos últimos quilômetros, e não daria para seguir tranquilo.
Na hora de ir embora, um ônibus de turismo parou na frente do restaurante e quando olhei vi uma foto de uma orla da praia adesivada na lateral e achei ela familiar, e quando prestei atenção, era a praia de Santos e São Vicente, aonde era possível ver o meu prédio.
Fala sério, 2.500 km distante de casa, aos pés da Cordilheira dos Andes, a última coisa que eu poderia imaginar que veria, era aquela paisagem do meu dia a dia.
Foi um conforto, um bem-estar fora do comum.
Tirei umas fotos e seguimos viagem, Cordilheira acima, no trecho mais complicado devido a subida íngreme da Ruta 4, em uma região de densa floresta, onde chove permanentemente, deixando a pista lisa de limo e o solo fofo, tanto que são inúmeros trechos de deslizamento e afundamento da estrada.
Na verdade, já foi pior. Em 2015 quando cruzamos este trecho pela primeira vez, haviam 26 pontos aonde o piso cedeu, e como reparo, pedras foram compactadas no lugar. Quase uma rua de paralelepípedos... sem risco, apenas desconforto.
No último grupo que guiei por estas bandas, contei 16 pontos, e hoje apenas 11, já que a equipe de manutenção da estrada vem cobrindo com asfalto essas pedras.
São 150 km de Villa Tunari até Cochabamba, dos quais 80 são punks.
Neblina densa, caminhões nos dois sentidos, garoa intermitente e piso desnivelado... não precisa de mais nada para esta aventura.
Levamos quase 3h pra subir ao ponto mais alto e descer para Cochabamba aonde chegamos por volta das 6h30, totalizando 9h de viagem.
Agora é seguir para Sucre, onde faremos mais passeios... fiquem com a gente.