A TORTUOSA ESCALADA DO VULCÃO LA PORUÑA

Cidade: Calama/CH | Categoria: Passeios
Postado em: 15/9/2015
Diário de Motocicleta

Ainda não nos acostumamos com o fuso horário Peru/Chile... estamos ainda com a cabeça duas horas atrás, e isso só não está sendo um problema porque aqui anoitece apenas às 20h.

Dormimos tarde... acordamos tarde.
Tomamos o café da manhã, arrumamos os equipamentos e partimos para conhecer mais vulcões nos arredores de Calama.

Seguimos pela Ruta 21 em direção à fronteira com a Bolívia e logo nos primeiros km já conseguimos avistar os Vulcões San Pedro, San Pablo e o Parini, mas meu objetivo pessoal ainda não podia ser visto.

Rodamos por uma estrada vicinal passando pela minúscula cidade de Chiu Chiu de onde tivemos uma bela vista do Parini com seus 5.900 m de altitude, levemente coberto de neve.
Da estrada o avistamos a uns 100 km de distância, já enorme e imponente.

Logo à sua esquerda, San Pedro (6.145 m) e San Pablo (6.000 m) nos miravam quando consegui ver a primeira silhueta do Vulcão Poruña, um mini vulcão na base do San Pedro queeu pretendia subir.

A estrada asfaltada terminou por volta do 65 km e seguimos em trecho de terra compactada, pedras e areia por mais uns 20 km até que paramos em frente ao Poruña que cresceu a medida que nos aproximávamos.

Paramos a moto próximo e caminhamos uns 300 m até a base.

Achamos melhor eu subir sozinho, pois não se via uma trilha e temia pelo joelho da Elda que dói sob grande esforço.

Peguei a câmera, monopé e o drone, e iniciei a subida.
A Elda queria que eu levasse a água, mas seria um peso a mais, sem contar que não tinha como levar com as mãos ocupadas... muito inteligente subir um vulcão sem levar água... às vezes me surpreendo com a minha capacidade de ter boas ideias.

De onde “acampamos” até o início da subida já foi cansativo, pois o terreno é coberto de pedras, e achar o lugar certo para por o pé não é fácil.

Logo nos primeiros metros da trilha, já estava cansado, pois, apesar de ter deixado a jaqueta da TEXX com a Elda, eu ainda usava a calça e as botas, ideais para uma viajem de moto, mas muito pesadas para uma escalada.
Mas por que se preocupar se nem de água eu precisava?

Em aproximadamente 20m de subida a trilha acabou e o que eu via para todos os lados eram pedras soltas dos mais diversos tamanhos.
Era difícil caminhar, pois às vezes eu pisava em uma “areia movediça” de pedras soltas e um passo a frente se tornava uma deslizada para trás.

Queria chegar logo ao topo, mas estava subindo na diagonal e temia dar a volta no Vulcão inteiro até atingir o cume.
Mas não havia outra solução... seguir em linha reta pico acima era loucura, não se tratava de uma colina gramada e plana, era a maldita encosta de um vulcão pequeno... e eu tentava não pensar na água a medida que a Elda se tornava um pontinho negro lá embaixo.

O ar faltava!
Por cinco ou seis vezes me sentei nas pedras e tentei respirar.
O ar existe nesta altitude, o problema é a pressão atmosférica que não permite que os pulmões se dilatem e bombeiem oxigênio para o organismo.
É como respirar com a quantidade de ar dentro de um saco de supermercado... é só aquilo que tem e pronto.

E como a água me faz falta!
Passava a língua nos lábios secos e eles continuavam secos.

Creio que depois de uma hora e meia consegui chegar na cratera.
Neste ponto não tinha mais visão da Elda, e em poucos minutos, tratei de caminhar na borda até avistá-la.


A paisagem lá de cima é surreal.
O Vulcão Poruña tem 3.800 m de altitude, embora da sua base até o cume, não deva passar de uns 500 m que me arrancaram o baço, um pulmão e toda a saliva que eu tinha na boca... mas valeu muuuuito a pena.

Lá enterrei nossa Cápsula do Tempo com as mensagens enviadas pelos amigos que compraram as últimas unidades do DVD sobre a Viagem ao Ushuaia (vou enviar à eles as coordenadas do GPS, filme e as fotos da Apacheta que ergui sobre a cápsula).

Fiz algumas fotos e quando os ventos deram uma trégua, coloquei o drone para voar.
Foi subir uns metros e uma rajada de vento o arrastou pra bem longe, me fazendo quase perdê-lo de vista.
Tentei a todo custo fazê-lo voltar, mas novamente os ventos o levaram para outro lado – por conta dos 6.145 m do Vulcão San Pedro logo em frente, os ventos nunca sopram de um lado só – e eu aprendi isso na prática enquanto via o drone perder altitude e se chocar com o paredão de pedras longe do meu alcance. Que dó!

Pensa num cabra desesperado, sem saliva na boca descendo uma encosta com máquina fotográfica na mão, rádio controle no pescoço tentando achar um pontinho branco no meio de pedras enormes... pois bem... esse cabra era eu.

Desci escorregando, oras de pé, oras de bunda na direção do meu último contato visual, e finalmente o encontrei de cabeça pra baixo, com uma hélice faltando e ainda estrebuchando.

O problema é que essa captura me levou para outro lado do nosso acampamento, o que me fez caminhar por um terreno tortuoso até o encontro da minha amada Elda que me recebeu com um sorriso que só ela tem e que só não era melhor – naquele momento – do que dois litros de água gelada.
Mas só tinha uns 400 ml, então seus beijos me recuperaram as forças.

Ainda pensava em seguir até o Vulcão Ollagüe, mas seriam mais 110 km em estrada de terra e não tinha energia para isso.
Quando visitarmos o Salar do Uyuni voltaremos para Calama por este caminho especialmente para passar ao lado do Ollagüe.

Voltamos para o hotel no fim da tarde, exaustos e realizados.
Amanhã seguimos para San Pedro de Atacama.

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