AS ADUANAS E OS POLICIAIS

Postado em: 3/2/2012 | Categoria: Fica a Dica
Diário de Motocicleta

É difícil não associar propinas policiais quando se fala em viagens de moto pela América Latina... são muitas as histórias de experiências negativas e como toda e boa desgraça, se proliferam rapidamente na web.

Realmente estamos à mercê de “oficiais” que vêem em nós, moto turistas uma pequena fábrica de dinheiro e como na grande maioria das vezes sedemos ao achaque, é dinheiro certo e tal atitude a cada dia que passa entra para cultura desses policiais.
Podemos comparar ao roubo de peças de moto... a partir do dia em que ninguém mais comprar peças sem nota fiscal e procedência, o número de roubos cairá absurdamente. Mas não é disso que tratará este artigo.

As Aduanas

Após o amigo ler nosso artigo A verdade sobre Documentações em viagens pela América Latina de moto, pode constatar quais papeladas são necessárias para uma viagem dessas, bem como deve ter observado alguns testemunhos que comprovam o que dissemos no texto que na verdade nunca sabemos o que nos será pedido, então vale a máxima que é melhor pecar pelo excesso que pela falta.
A mecânica das aduanas funciona de forma simples, ao entrar em um país é necessário o visto para moto, para piloto e passageiro (quando houver).
Este visto é chamado de “Permisso” e convém primeiro passar na “Migracion” para autorização de entrada das pessoas.
Não será obrigatória a apresentação de Passaporte se você estiver entrando no Paraguai, Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Uruguai. Os demais países da América Latina não aceitam a apresentação do RG como estes – me corrijam se eu estiver errado.

Na “Migracion” você preencherá um documento com todos os seus dados, do residencial, a documentos, profissão, precedência e destino, tempo de permanência no país e por ai vai. É bem chato o preenchimento, nunca há um funcionário ao seu lado lhe orientando, mas em algumas “Migracion” há um modelo de preenchimento colado na parede.
A única coisa que você não pode fazer é rasurar... os caras não perdoam e mandam fazer tudo novamente.
Preenchida essa ficha de duas vias, carimbos chancelados... você já tem autorização para entrar no país... agora é a hora da motoca.
Vá para a Aduana para registrar o veículo e pedir a autorização para motocar em território estrangeiro. Essa parte geralmente é mais demorada, pois diferentemente da “Migracion” que só lhe pediu RG, aqui você deverá apresentar Carta Verde, Documentos da Moto, Seguro, Habilitação, Carta do Banco e vai saber mais o que será solicitado.
Tenha tudo em uma pasta.
O segredo para uma passagem tranqüila é muito simples, sorriso no rosto, simpatia aflorada e paciência serena como se você tivesse saído em viagem só para curtir uma aduana.
Feito tudo isso... é só motocar com segurança e curtir sua viagem, mas não se esqueça de quando sair deste país, dar baixa tanto na migração quanto na aduana, geralmente o processo é mais simples e requer apenas a apresentação desses “permissos” que serão recolhidos, então, se quiser guardar uma recordação, faça uma cópia... nós esquecemos! (rs)

As Aduanas pelas quais passamos

• Brasil x Paraguai – Salto Del Guairá – sequer entramos no escritório da Aduana que também faz a parte de Migração. Ali nos foi solicitado RG, Documento da moto e habilitação... nada mais. Levou uns 10 minutos e saímos com todos os “permissos”.
Na saída a Migração e Aduana funcionam em Mariscal Jose Félix Estigarribia no meio do chaco Paraguaio... praticamente só existe isso por lá. Foi tão simples como a entrada. O curioso que esta aduana fica a mais ou menos uns 150 km da fronteira com a Bolívia.

• Paraguai x Bolívia – Mayor Infante Rivarola – após passar por uma chancela da polícia militar boliviana, chegamos à fronteira onde demos a entrada das motos. Aqui um fato curioso, a Bolívia não faz parte do Mercosul e não exige a Carta Verde... pois bem... nos foi solicitado a Carta Verde. Era o único documento que eu tinha deixado na moto e tive que buscar. O processo foi mais lento, pediram dos documentos das motos e habilitações e emitiram o “permisso”. A parte de Migração foi feita em Ibibobo, há cerca de 60 km da fronteira por uma estrada de terra onde corremos contra o relógio e de olho no tanque (mas isso eu comento em outro artigo) – chegando em Ibibobo no meio do nada boliviano, o “chefe da migração” foi bem grosseiro e já chegou dando esculacho, pois como de costume, entramos um de cada vez na “sala” – um barracão caindo aos pedaços – e o dito cujo nos queria todos reunidos... depois reclamou que já chegamos apresentando documentos e não esperamos ele dar as boas vindas e dizer como funciona o pais dele.
Mais calmo, perguntou meio que afirmando se nós queríamos que o auxiliar dele preenchesse o cadastro ao que concordamos e demos US$10 de “gorjeta” que eles chamam de propina mesmo. Foi solicitada a Carteira de Vacinação da Febre Amarela e causou um desconforto, pois um dos pilotos não a encontrou.
Do outro lado do país, na nossa saída pela região de Copacabana no Lago Titicaca, um policial nos disse para passar na Policia Caminera depois de dar baixa nos documentos na Migração e Aduana. Feito isso lá fomos nós. Entramos e ele muito simpático começou a perguntar se tínhamos gostado da Bolívia, por onde tínhamos passado, se tínhamos conhecido isso ou aquilo e depois de uns 10 minutos de papo, quando ele já era “brother”, disse muito simpaticamente “usted no tiene una contribución a la policía caminera?” – depois de quase começar uma partida de truco com o meu amigo bolivaino, não tinhamos como recusar… saquei B.5,00 (cinco bolivianos) que equivalem a R$1,50 e que da para comprar uma latinha de Coca-Cola e só faltou o cabra me abraçar.
A pobreza é evidente no olhar de cada boliviano!
Seguimos e o deixamos com um sorriso desejando que voltemos em breve para Bolívia, o que faremos em breve.

• Bolívia x Peru – 50 metros da aduana da Bolívia
– A Migração foi chata, pois rasuramos a via e tivemos que fazer tudo novamente. Feito isso seguimos para a Aduana onde o atendimento foi super simpático apesar de demorar um pouco. Dali fomos orientados a seguir para a “Policia Caminera”... lá nos foi cobrado o S.O.A.T. – equivalente ao nosso DPVAT e que após JAN/2011 passou a ser cobrado quando o Peru passou a não aceitar mais a Carta Verde. Acontece que no Brasil não conseguimos esse documento e ali não se vendia. Resumo da ópera, tivemos que dar S/20,00 cada um (R$13,00) para sermos liberados e ainda ouvimos a seguinte graça do oficial – “Olha, eu não me importo se vocês tem ou não o S.O.A.T., por mim vocês podem atravessar o Peru inteiro sem ele, mas isso é uma infração, e como oficial eu não posso permitir uma coisa dessa!” – é uma piada né? Recebeu os vintão de cada moto e nos liberou.
A saída foi por Santa Cruz, pouco depois de Tacna e foi mais burocrática, pois foi solicitada uma declaração de passageiros... isso mesmo... declaração de passageiros para a moto!
O complexo é muito grande e movimentado e requer um pouco de paciência para dar baixa na migração e aduana.

• Peru x Chile – 100 metros da aduana do Peru – Bem vindo ao primeiro mundo e de cara é preciso arrumar o relógio, pois o fuso horário é de duas horas para mais. Saímos do Peru ás 11h e 100 metros depois já eram 13h... foi os 100 metros mais demorados da minha vida (rs).
Foi preciso preencher a guia da migração como os outros países mas aqui foi solicitado aquele documento com declaração do número dos passageiros da moto – muito útil. Feito isso, precisamos esperar um fiscal vir revistar sua bagagem em busca de drogas, frutas e legumes, isso por que no Chile eles erradicaram a mosquinha da banana (Drosophilla Melanogaster) e não deixam leguminosas e hortifrutigranjeiros entrar se não estiver em perfeito estado e de preferência embalados. Malas reviradas, não encontraram nada. Parti então para a parte da Aduana que depois de uma fila, me deram uma ficha para preencher com os dados da moto, mas eles não fornecem caneta... tenha sempre uma no bolso e não na moto com eu. Feito isso, seguimos viagem!
A saída foi em San Pedro de Atacama – Reze para não chegar depois de um ônibus de excursão como nós... há apenas um funcionário para dar baixa e emitir “permisso”, então ficamos cerca de 1h30 na fila. A parte de aduana, que é do lado, um fiscal vem dar uma olhada na moto mas não revista a bagagem de quem sai. Essa parte foi rápida.

• Chile x Argentina – Paso de Jama – Cerca de 170 km depois de dar baixa na Aduana e Migração Chilena e subir a quase 5.000 metros de altitude, chegamos na fronteira com a Argentina. Sabe aquele ônibus de excursão? Chegou antes da gente... lá se foi mais uma hora na fila para “permisso” e no guichê ao lado para aduana. Diferentemente dos outros países, a Argentina só lhe entrega a guia do “pemisso”, a moto é registrada, mas não lhe dão qualquer documento.
A saída foi em Foz de Iguaçu onde bastou entregar o “permisso” e entrar no Brasil.

Observações rápidas sobre as diferentes polícias

• Paraguai
– fomos subornados pela polícia de Emboscada em cerca de R$390,00 (G900.000,00 Novecentos Mil Guaranis). Se passar por Emboscada será multado, não tem jeito. Se não der para mudar o trajeto, deixe na carteira não mais que G50.000,00 e diga que é dinheiro para gasolina e que só viaja com “targeta” (cartão de crédito). Esconda todo o seu dinheiro. No Paraguai as multas são aplicadas na hora e geralmente sem recibo, então não marque bobeira na cidade e passe em sinal amarelo, é o necessário para ouvir um apito histérico.

• Bolívia – na estrada toda vez que encontrar uma “Auduana Control” – geralmente uma casinha verde com uma corda ou corrente cruzando a pista... pare! Desça da moto com um largo sorriso, tire capacete, luvas, tudo sorrindo e sem pressa, pegue o “permisso” da moto e entregue ao oficial com os documentos da moto e sua habilitação. Em muitos desses postos eles vão bater um carimbo e te pedir B.5,00 (R$1,50) alegando que trata-se de taxa, mas é propina. Antes de você ficar nervoso com isso, lembre-se que o cara é pobre mesmo, igual às crianças nos semáforos do Brasil que sorriem menos que este policial quando receber esse “dinheirão”. Se lhe pedirem SOAT, é golpe para uma propina maior, diga que não foi avisado da necessidade e pergunte onde pode comprar, há grande chances de ser liberado. O SOAT boliviano é apenas para carros nacionais.

• Peru – foi o país onde mais motocamos e mais fomos parados, mas em nenhuma ocasião, tirando o oficial na fronteira, tivemos que pagar propina. Tenha o SOAT em mãos, pois é a primeira coisa que eles pedem.

• Chile – os caras são fechadões e rigorosos com as leis de trânsito. Em San Pedro de Atacama um policial me parou e perguntou por que eu não parei na placa PARE... aqui a gente reduz, lá tem que parar mesmo, colocar o pé no chão, olhar para os dois lados e seguir. Essa placa Pare que eu passei ficava em uma bifurcação sem movimento algum, só eu estava na rua de terra. Então o negócio é sério! Não fui multado, mas fui advertido que não teria outra chance.

• Argentina – só posso dizer que os policiais da aduana são pra lá de simpáticos, pois nos trataram muito bem e depois disso, cruzamos a Argentina toda sem ser parados uma vez... deixei para comemorar assim que passei a Aduana do Brasil (rs).

 

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