AS AVENTURAS DO VELHO DOIDO
Não é difícil encontrar motociclistas que cultivam desde a infância ou juventude, o sonho de viajar o mundo de moto... muitos entretanto, vêem seus sonhos quase escapar entre os dedos, diante das responsabilidades que a vida nos prega, primando pelo sustento da família, criação dos filhos e tantos outros desvios que nos colocam longe das estradas.
Com o amigo Sinomar – o Velho Doido como ele mesmo se denomina – não foi diferente, somente após a aposentadoria, e com a Carteira de Habilitação fresquinha no bolso, resolveu resgatar um sonho que lhe acompanhou boa parte da vida, desde que conheceu na juventude um australiano que rodava o mundo de carona... este exemplo seria seguido, mas sobre duas rodas.
“Depois de viajar 67 dias através do Mercosul, quando rodei 19.507 km, sentando na "Celestina" (apelido da minha Shadow 750), o sangue ficou contaminado e o cérebro ficou obsessivo com o motociclismo. Não consigo mais parar de pensar em estrada”, confessa Sinomar, que juntamente com sua esposa Edivânia, formam um triângulo amoroso com a “Celestina” e partem de Morrinho/GO para todos os cantos deste mundão de meu Deus.
Acompanhe o bate-papo que o Diário de Motocicleta teve com Velho Doido.
DIÁRIO – Quando as viagens de moto começaram, sua esposa já subiu na garupa ou levou tempo até ela gostar da idéia?
SINOMAR – Ela foi a primeira pessoa a subir na garupa. Mesmo com minha falta de habilidade, com um mês de habilitação, ela encarou sem medo.
DIÁRIO – Qual foi o primeiro destino? Quando?
SINOMAR – O primeiro destino foi para participar de um encontro de motociclistas na cidade de Catalão-Go.
DIÁRIO – A viagem ao Ushuaia foi a primeira viagem internacional? Qual o maior desafio superado nesta viagem ao Fim do Mundo?
SINOMAR – Sim, foi minha primeira viagem pra fora do Brasil e o grande desafio foi o Ripio da Ruta 40 que me obrigava a pilotar nas trilhas dos carros e a cada escapada, a moto se enterrava no cascalho. Além disso, o Vento Patagônio me obrigava a pilotar com a moto tombada como se fosse fazer uma curva fechada. Tanto no Rípio como no asfalto ventoso, ultrapassar ou ser ultrapassado era muito temeroso.
DIÁRIO – Qual foi a moto utilizada? Ela se comportou direitinho?
SINOMAR –Uma Shadow 750. Foi ótima.
DIÁRIO – Já empreendeu viagens solo ou sempre vai acompanhado de sua esposa?
SINOMAR – Sempre vou acompanhado da minha esposa.
DIÁRIO – E a idéia de partir em viagem para o Alaska, quando surgiu?
SINOMAR – Depois de rodar 19.500 km pelo sul da América e 9000 km entre Salvador e São Luiz do Maranhão, visitando todas as praias no percurso gastando R$ 90,00 por dia.
DIÁRIO – Ao todo quantos dias e quantos km foram percorridos entre ida e volta?
SINOMAR – A viagem ao Ushuaia foram 67 dias 19.500 km. A viagem ao Alasca foram 9 meses e 57.000 km.
DIÁRIO – É de conhecimento de muitos amigos que a passagem pela América Central geralmente é conturbada. Vocês tiveram algum problema nesta região?
SINOMAR – A dificuldade maior foi com os trâmites burocráticos das aduanas. Mas como já esperávamos não chegamos sofrer ou nos irritar. A polícia aduaneira do Peru, na imigração de Copacabana, extorquiu-nos dinheiro por estarmos sem o seguro da moto. Na Colômbia minha mulher enfrentou 7 soldados armados com metralhadoras e conseguiu evitar o pagamento de suborno. Em Acapulco no México ela discutiu com dois policiais que tentavam nos arrancar dinheiro, alegando que teríamos avançado sinal vermelho, mais uma vez, conseguimos nos safar. Daí para frente ela adotou um procedimento que nos evitou diversos aborrecimentos: quando ela via um grupo de policiais ela começa a filmar. Assim muitos viravam o rosto e nos mandavam seguir.
DIÁRIO – Como se deu a travessia no Panamá?
SINOMAR – Tomamos avião na ida e barco na volta. No barco sofremos muito com tempestades e maresia.
DIÁRIO – O que você faria de diferente se por ventura repetisse este mesmo roteiro?
SINOMAR – Consultaria o Wikpedia antes de cada cidade, para conhecê-la melhor, antes de visitá-la. Deixei de conhecer pontos turísticos importantes por falta dessa consulta.
DIÁRIO – Sabemos que tem um livro a cerca desta viagem no forno. Você já tem uma idéia do lançamento?
SINOMAR –Planejo para Agosto de 2013.
DIÁRIO – Como os amigos do Diário de Motocicleta podem entrar em contato com você, seja para adquirir o livro ou para se consultar a respeito desta viagem?
SINOMAR – E-mail: sinomarg@gmail.com / http://sinomarg.blogspot.com / http://morrinhos2ushuaia.blogspot.com
DIÁRIO – Já existe um novo roteiro sendo traçado ou o foco agora é finalizar o livro?
SINOMAR – Primeiro terminar o livro. Depois se tiver saúde quero continuar viajando.
Nota: O amigo Sinomar inscreveu seu roteiro no Concurso Cultural Kawasaki, que prevê rodar durante dois anos consecutivos através da África, Ásia e Europa com a média de US$75,00 por dia.
A idéia é circular o continente africano margeando os Oceanos Atlântico e Índico, iniciando por Marrocos, passando pelo Nigéria, África do Sul, Tanzânia e Somália. Nessa fase, pretendem fotografar a Versys 650 numa savana com animais africanos e outras atrações como o monte Kilimanjaro na Tanzânia. Depois, querem visitar todos os países ASIÁTICOS (Exceto aqueles com empecilhos e ilhas).
Pontos relevantes: Fotografar a Kawasaki Versys 650 ao lado de um Templo do Nepal, tendo ao fundo o Taj Mahal na Índia e a Muralha da China, conhecer a Sede mundial da Kawasaki em Tóquio ou Kobe no Japão e percorrer os 2.000 km de lama da Estrada dos Ossos na Sibéria, estrada construída na era de Stalin da ex- URSS pelos prisioneiros políticos, que eram enterrados sob a terraplanagem.
O objetivo é sair de Vladivostok na Rússia, vindo do Japão e chegar à Mongólia.
Depois de conhecer 20 dos 41 países Europeus - com destaque para Finlândia, Suécia, Noruega e Reino Unido – pretendem terminar a aventura em Portugal ou Espanha, quando voltarão para o Brasil.
DIÁRIO – Que recado você deixaria para aqueles que acham que é tarde demais para começar a viajar de moto e se aventurar pelo mundo?
SINOMAR – Sou hipertenso, diabético, com células pré-cancerígenas na careca e a próstata crescida que me obrigava a parar repetidamente para urinar. Então sou um exemplo vivo. O recado que deixo para todos é que dinheiro, tamanho de moto e falta de saber falar línguas não são desculpas para deixar de viajar.