USO DO CAPACETE NÃO É SUFICIENTE PARA SEGURANÇA DOS MOTOCICLISTAS
O uso do capacete como equipamento de segurança é obrigatório pela legislação de trânsito brasileira. Mas ele nem sempre é suficiente para assegurar que a vítima de acidente de moto tenha a vida preservada. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) revelou que as lesões nos joelhos e tornozelos são recorrentes nos acidentes envolvendo motociclistas.
O médico Nilton Mazzer fez um levantamento sobre os atendimentos de vítimas de acidente de motos de janeiro a outubro de 2008 na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e identificou dados alarmantes sobre as consequências de ações, muitas vezes, imprudentes. Os resultados da pesquisa foram mostraddos no VIII Congresso Brasileiro sobre Acidentes e Medicina do Trabalho, em Belo Horizonte.
O evento vai até este sábado (05/09/2009).
De acordo com o especialista, em 2002, foram 52.529 acidentes com motos em Ribeirão Preto. Em 2008, o número quase dobrou, chegando a 91.548. Ainda segundo a pesquisa, a cada 11 dias em 2008, uma pessoa morria em acidente envolvendo motocicleta. Os motociclistas também são responsáveis pelo maior número de atropelamentos, no mesmo ano, na cidade do interior de São Paulo. A maioria dos acidentados em motos é formada por homens, de 18 a 27 anos.
Durante os dez meses de levantamento, foram analisados atendimentos a 1.822 pacientes na Faculdade de Medicina. Desses, 32%, o que corresponde a 583 pessoas, foram atendidos pelo setor de ortopedia. Dessa fatia, 209, 24% do total de pacientes, sofreram lesões em acidentes de motos. Do universo de 209 pessoas, 137 precisavam de cirurgia, tinham em média 26 anos, e ficaram em dez dias internados.
Joelhos e tornozelo
As fraturas no joelho e tornozelo são as mais recorrentes entre acidentados de motos, de acordo com a pesquisa. Em segundo lugar, ficaram a pélvis e o fêmur (maior osso do corpo humano, localizado na perna). Dos 209 pacientes analisados, 59% sofreram graves lesões em partes moles importantes, que são pele, músculos, nervos. Ao todo, oito pacientes tiveram membros amputados. Com esses dados, é possível perceber que a segurança em motocicletas ultrapassa o uso do capacete, envolvendo prudência no trânsito e obediência à legislação vigente.
Para mudar esse quadro, o especialista sugere algumas ações que focam na prevenção. Para Nilton Mazzer, é muito importante que as crianças recebam, na escola, instruções sobre segurança e trânsito, para se tornarem adultos mais conscientes.
"A prevenção é a chave. O ideal é que o paciente chegue ao hospital o menos grave possível e não tenha sequelas que o deixem incapacitado", ressaltou o especialista em ortopedia.
Dentre as sugestões do médico, ainda estão o investimento em campanhas preventivas, melhorar o ensino em autoescolas, avaliação psicológica de candidatos a motorista mais eficiente e abrangente. No trânsito, ele aconselha a proibição de ultrapassagem pela direita e a criação de faixas de circulação exclusivas para motos.
A sanção da lei que regulamenta a profissão de mototaxista, assinada pelo presidente Lula em julho deste ano, levanta a questão da segurança e das responsabilidades com mais intensidade. Atualmente, são 2,5 milhões de motociclistas profissionais no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Motociclistas. Os acidentes de moto no país somaram dez mil mortos, mais de 500 mil feridos e um gasto de R$ 8 bilhões no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito.
Por : Cíntia Paes
Publicado originalmente em :
g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL1293374-9658,00.html