A BOLÍVIA NA BERLINDA
Recentemente recebi um e-mail de um amigo que me informava em primeira mão a triste notícia que o estimado motociclista Eduardo Wermelinger (editor do site Rotaway) sofrera um assalto na Bolívia.
Naquele momento a informação devia ser mantida em sigilo, pois o mesmo ainda estava voltando para casa e avisar a família sobre o ocorrido, pelas páginas da web não seria nenhum pouco sensato.
Agora, são e salvo em casa, e após publicar seu relato dos fatos, o tema começa a gerar polêmica... viajar ou não pela Bolívia?
Segundo Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra”, assim como, toda generalização também.
Em 2011 rodamos pelo Paraguai, Bolívia, Peru, Chile e Argentina e não sofremos em nenhum momento perigo de assalto, sequestro ou risco de morte pelos temíveis narcotraficantes que assim como as cobras e macacos espalhados pelas ruas do Brasil, estão em todos os lados.
No entanto, assim que entramos no Paraguai fomos extorquidos por policiais corruptos em cerca de R$ 380,00.
Naquele momento, o ódio pelo país contaminava o sangue e a vontade de sair dali e nunca mais voltar eram nossa máxima.
Publiquei artigo sobre o ocorrido, juntamente com fotos e vídeos da extorsão e os comentários não demoraram a chegar, desde os desavisados que acabaram por cortar o Paraguai de seus roteiros, aos que compartilharam situações semelhantes, e claro, aqueles que amaram o país e desejavam voltar o quanto antes.
Certa vez comentei que não existe viagem igual, e que por mais que o mesmo caminho seja repetido, tudo será novo, as situações serão diferentes e dependendo do destino, até pontos turísticos diferentes poderão ser visitados.
Se eu volto ao Paraguai?
Passados um ano do episódio, é provável que sim, mas obviamente evitarei passar por Emboscada - sugestivo nome da cidade onde fomos assaltados pela polícia.
Durante nossa passagem pela Bolívia que possui um cultura fantástica, monumentos históricos de cair o queixo e estradas e paisagens de babar dentro do capacete, rodamos pela péssima Ruta 5 que está em construção e apresenta cerca de 200 km de areia fina, o que retardou nossa velocidade e fez com que saíssemos da nossa zona de conforto e segurança, rodando até a 1h da manhã no meio da Cordilheira dos Andes.
Corremos um risco, mas naquele momento não tínhamos o que fazer a não ser seguir em frente.
Dias depois, já deixando Potosí em direção a La Paz pela Ruta 1, fomos alertados tanto no hotel quanto no Posto de Combustível, que deveríamos evitar o abastecimento em Challapata, já que ali era um reduto conhecido por seus gatunos.
Confesso que seguimos um pouco apreensivos, mas como nossa autonomia permitia abastecer apenas em Oruro (315 km da nossa origem), tocamos o barco, eu em uma V-Strom e meu amigo Jeová em uma Boulevard 800.
Passamos tranquilamente pela região onde o amigo Eduardo sofreu o assalto.
Ele viajava sozinho pela Ruta 6 – paralela a nossa – quando foi ultrapassado e fechado por uma camionete de onde cinco bandidos saíram armados e começaram a lhe fazer “o rapa”.
Ele agiu certo não reagindo ao assalto, e após lamentáveis tapas, viu seus algozes partirem com tudo, menos a moto.
Isso caracteriza uma bandidagem de oportunismo, por que se fosse uma quadrilha focada em assaltar moto viajantes... a moto seria o principal objetivo e não documentos, câmeras e cartões.
Alguns questionam que por conta do Eduardo estar sozinho, isso facilitou a ação dos bandidos. Eu particularmente acho que um grupo de cinco amigos nada poderiam fazer contra homens armados bloqueando a estrada.
De toda forma, existem alguns procedimentos que podem ajudar a aumentar a segurança em longas ou médias viagens tanto pela América Latina como no Brasil, sendo:
1- Procure não fornecer muitas informações sobre o seu roteiro a estranhos – é comum sermos admirados e despertarmos a curiosidade de pessoas locais, seja na rua, no restaurante ou no hotel. Colocar estas pessoas a par da sua origem e do seu destino, é uma informação que pode cair em “mãos” erradas. Não tem o que falar, fale do tempo, elogie o último ponto turístico, a comida... sorria!
2- Não ostente equipamentos e demais pertences – em se tratando de Bolívia, Paraguai e até mesmo boa parte do Peru, o grau de pobreza é muito grande e evidente, e como já diz o ditado, a ocasião faz o ladrão. Não abra o seu notebook em praça pública, mantenha sua câmera no case, ande apenas com o dinheiro necessário no bolso.
3- Demonstre simpatia e humildade – você não é melhor do que ninguém só por que tem uma moto bacana ou possui condições para uma viagem internacional ou interestadual. Sorria sempre, incline-se e use as palavrinhas mágicas, infelizmente em desuso hoje em dia, como “por favor” e “obrigado”. Isso funciona até com a polícia.
4- Nunca viaje a noite – tenha em seu planejamento uma cidade destino que seja possível chegar antes do anoitecer, e saia cedo para que seu cronograma seja cumprido. No caso de alguma pane da moto ou outro contratempo, procure logo a cidade mais próxima e se hospede, por que os ratos saem a noite para se alimentar.
5- Mantenha-se alerto – tal qual os bandidos que agem nas portas de banco e supermercado aqui no Brasil, o alvo é sempre o cabra que vive no mundo da Lua, por isso esteja sempre atento. O retrovisor foi feito para ser olhado. Desconfie sempre de veículos que não te ultrapassem, mesmo com oportunidade para tal, ou que passam com o olhar muito fixo e não se afastam.
Lembre-se que o que aconteceu com os outros não acontecerá igualmente com você, poderá ser melhor ou muito pior, mas isso não é uma regra, é uma exceção.
ps.: sugiro a leitura do artigo Rodando as Cidades da Bolívia