3 AMÉRICAS EM 34 DIAS

Revisado em: 03/03/2018 | Categoria:
Diário de Motocicleta

O paulista Wagner de Sorocaba percorreu em apenas 34 dias, mais de 18.000 km cruzando 12 países e as 3 Américas para rever o irmão que reside em Toronto, no Canadá.
Um feito memorável para poucos e que reforça a tese que de moto, o mundo pode ser bem pequeno.

Confira o relato dos últimos dias desta aventura que já tem segunda etapa prevista.


Olá amigos! Cheguei à Toronto! Na verdade foi no domingo agora (26/AGO).

A viagem foi se precipitando no final, parecia que tudo ia me empurrando, foi muito rápido e eu não tinha tempo livre. Fazia mil km e quando escurecia, ou quase, parava pra dormir em beira de estrada em bons hotéis, mas sem computador, então ficamos sem os relatos.

Como foi viajar nos EUA?
Muito mais fácil claro. Depois do choque inicial no Texas, me acostumei com o esquema: placas com muita informação, estradas excelentes.
Essas estradas nunca são engolidas pelas cidades, como ocorre no caminho ate o México. A cidade fica nos arredores, preservada, e há saídas muito bem sinalizadas, e em cada uma delas tem pelo menos um posto, uma conveniência, um restaurante e um hotel.
Se você cansar, é só ficar por ali mesmo. Não atrapalha a cidade, e a cidade não atrapalha vc. Então, rende bem e fazer mil km nos EUA é bem tranqüilo.


De Kingsville, no Texas, segui para New Orleans, na Lousiania.
Ingressando por Matamoros (México), se toma a 77, isso até Houston, depois é a 10 East até N. Orleans.


Na passagem por Houston – minha primeira cidade grande – achei que ia me perder com a nuvem de viadutos que apareceu, mas é só ficar de boa na 77 e aguardar indicação da 10. Sempre tem.


Nova Orleans valeu bem a pena, pelo seu bairro Francês, pela Bourbon St. e pelo rio Mississipi, que ali encontra o Golfo do México.
Na Bourbon St. afoguei todos os perrengues do México e ai foi só alegria. Essa região tem um lago enorme ao norte de N. Orleans, e os americanos fizeram pontes incríveis pra superar todo esse pântano, incluindo a Ponte do Lago Pontchartrain, que disseram ser a maior do mundo, até que a China conclua a que esta fazendo.
Essa ponte nos EUA deve ter uns 40 km pelo menos. Pena que nas pontes é ruim parar para fotografar.

Do French Quarter pra retomar a viagem, moleza. Só dar a volta no quarteirão e retomar a 10 road buscando desta vez a 59 ao norte.
Esse foi o início da última grande reta da viagem, de 2.000 km. Segui então indefinidamente até fazer longa distância.
Depois de Birmingham peguei a 65 norte, cruzei os Estados do Mississipi, Alabama e Tenesse. Foi então que fiquei em White Horse.
Essas estradas, mais ao sul, são muito tranqüilas e desisti de colocar uma pastilha nova no freio de trás, simplesmente por que não precisava usar o freio, nem o da frente. A primeira vez que usei foi em Nashiville, pois havia um congestionamento, o primeiro e último nos EUA.

No dia seguinte segui rumo a Louisville, Kentucky, para tomar a 71 e depois de Cincinati finalmente a 75 norte até Detroit, onde passei a última noite nos States.
Chegando à Detroit não tinha a mínima ideia do que ia fazer, se seguia para o Canadá, se dormia na estrada, ou na cidade.
Fui deixando rolar, mas a cidade me encantou, muito bonita e moderna, o que fez Sorocaba parecer um sítio arqueológico, e fiquei, apesar de o guia informar ser uma cidade violenta.

Sobre os hotéis nos EUA achei bem caro mesmo. Quartos muito bons, ar condicionado no talo, num deles eu tinha 9 toalhas! Bem que eu trocava pelas minhas cuecas limpas e a roupa de cordura – os urubus já faziam fila na estrada.

O povo americano me pareceu extremamente educado. E, foram também muito simpáticos. Pensei que nos EUA a moto e a viagem passariam indiferentes, mas não foi nada disso. Sobretudo no norte, em cada parada vinham pessoas conversar e querer saber tudo, com a diferença que não perguntavam quanto custou a moto! Mas how far, how long ... take care, nice job.
Nos EUA moto se confunde com Harley Davison. É só o que tem. E não usam capacete muitas vezes.


Assistência técnica existe um monte nas estradas. Pelo menos foi assim do Texas à Michigan.
Procurei o óleo Motul na Harley, e nada. No Waltmart tampouco. Não consegui achar muito fácil as coisas que queria comprar, talvez pelo pouco tempo.
O que estava sempre a mão eram postos, hotéis, restaurantes fast food, mas não um centro comercial propriamente.
Engraçado que na Costa Rica, na pequena Jaco, tinha o óleo numa lojinha e nem precisei procurar.
Na internet procurei e achei um distribuidor em Louisville. Chegando à cidade parei num estacionamento de uma loja e pedi ajuda a uma moça que me recebeu muito bem, e me chamou um taxi. Fomos até a tal loja, peguei o óleo e retornei. Troquei na oficina dessa mesma loja, e o pessoal foi super legal. Se eu não trocasse o óleo ia ficar encanado, por que a distância percorrida acabou ultrapassando em quase 2.000 km o previsto. Felizmente nunca deixei passar e fiz todas as trocas (3) regularmente, com uma de filtro.

Thank you sweet girl who received me in the store, thank you Jude very much, thanks everybody in BW BARRY WOOLEY DESIGNS, Louisville, KY!!!!

A passagem para o Canadá a partir de Detroit pode ser por um túnel ou por ponte. Estando o primeiro mais perto do hotel, lá fui eu. Mas NÃO, moto não pode ir pelo túnel. Retomei a 75 desta vez ao SUL para a tal ponte, a Ambassador Bridge (espetacular), mas “Access closed”... fiz umas voltas e segui até a fronteira.
De novo NÃO foi fácil. Eu tinha estabelecido para mim que não ia falar se não me perguntassem, mas se perguntassem, iria falar a verdade dos meus planos de deixar a moto aguardando no Canadá até a próxima etapa ao Alaska.
Não deu outra. “Onde você vai?” perguntaram, “Por quê? - Quando volta ao Brasil? - E a moto?”, então disseram “OK, entre e vá aquele escritório que vão fazer mais perguntas sobre a moto... então começou tudo de novo e ao final me disseram “NO, YOU CAN´T”.

Dureza ouvir isso!
Respira Wagnão. Bom, vai daqui e dali, consulta um e outro, e “Sim, vamos deixar... você terá de deixar um depósito em cash de US$500 e poderá deixar a moto desde que ela não saia da garagem, Ok?”, claro...

Segui para o Canadá, pela 401, bonita planície com casinhas de filme, limite de velocidade 100 km/h ou 60 milhas. Respeitei, mas cansou.
Estradas duplicadas de três faixas cada lado. Estava orgulhoso de ser brasileiro respeitando as Leis Canadenses bem mais do que eles.
Bem, mas num congestionamento em obras perto de Toronto, passei soberanamente entre os carros e depois fiquei sabendo que NÃO, isso não pode. Ninguém é perfeito, eheheh.

Um caipira em Toronto


Fui conhecer um pouco da cidade e Niagara Falls. Vi a estação de ônibus, quer dizer, onde eles estavam, e fui pra lá a pé. Quase tomei uma multa de 500 doletas. NÃO pode! Não sei que parte eu não entendi da placa que dizia: NÃO passe por aqui! Tem que entrar no shopping, atravessá-lo até a estação.
Ai sim. Fui comprar ticket do metro e dei US$20 no guichê. Recebi o troco e perguntei cadê meu ticket? O miguelito canadense disse “São US$3”. Pensei, “O seu mer...d...nha, acabei de te pagar”. Percebendo minha dúvida, uma moça ao lado disse que eu tinha que colocar US$3 naquela caixinha, uma prosaica caixinha de acrílico ao lado do guichê. Na verdade o miguelito só tinha trocado minha nota de US$20, nada mais.


Caramba, não é possível. O Metro de Toronto vive de esmolas em uma caixinha do tipo gorjetas, tipo, propinas!
Ai você passa numa roleta, vai numa máquina vermelha e aperta um botão para pegar o seu ticket!
Se colocaram o miguelito canadense ali, por que ele não faz logo isso? Ou a máquina mesmo pegava os US$20, dava o troco e o ticket?

Inexplicável!

Será que o Canadense é um Português que deu certo? Brincadeirinha, são um grande povo (assim como os portugueses, diga-se), pois tudo isto aqui é muito lindo. Mas que vacilaram ai, isso vacilaram!

Aqui a viagem chegou a seus últimos km.
Foi muita alegria ver as últimas placas e finalmente chegar à casa do meu irmão.

Foi o fim de uma jornada de 18.000 km e mais um pouco, por Brasil (acho que uns 4.000 km), Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala, México, EUA e Canadá. 12 países, 34 dias, minha maior viagem.
Foi ótimo o CAMINHO, e foi ótimo chegar à Toronto, rever a família, conhecer minha nova sobrinha Sofia e dar um beijo no Igor!

Viajar permite satisfazer uma curiosidade sobre os lugares, as pessoas, a forma como se organizam, é um teste para ver se você consegue viver em liberdade, ou mais próximo dela, uma busca de si mesmo.

Não senti falta de nada que eu tenho, só amigos e família, então, é um bom jeito de você verificar o que realmente é importante. Essa viagem teve muitos caminhos, e nenhum deles me afastou da minha família, ao contrário. Portanto, depois desse grande privilégio de estar nas estradas de moto por um tempo até bem grande, será melhor que tudo retornar pra casa, e é o que farei hoje mesmo.

Obrigado pela companhia de vocês, gostei muito das mensagens de todos, e isso ajudou e muito a manter o astral, que é fundamental pra todas as viagens, especialmente pra uma assim.

Até a volta.
Wagner

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