O FUERTE DE SAMAIPATA

Cidade: Santa Cruz de la Sierra/BO | Categoria: Passeios
Revisado em: 09/12/2017
Diário de Motocicleta

Acordamos cedo, mas não teve jeito, saímos do hotel por volta das 9h30 rumo à Samaipata, uma cidadezinha distante cerca de 125 km, que, se tratando de Cordilheira dos Andes, significava de 2 a 3h de viagem.

Na verdade nosso objetivo nem era a cidade de Samaipata, mas sim o Fuerte de Samaipata, considerado o maior sítio arqueológico rupestre do mundo.

Falo dele mais a frente, por enquanto vamos ao caminho que sai ao Sul de Santa Cruz, percorrendo a periferia pela Ruta 9, depois reto na Ruta 7 por mais 100 km.
Até ai o velho "anda e para" dos semáforos; deste ponto em diante, várias lombadas e veículos lentos vão consumindo as horas.

Em La Angostura, 40 km rodados da Ruta 7, existe um pedágio e uma Tranca (Posto de Controle Policial), onde em 2011 um o oficial me cobrou a Ordem de Translado, eu nem sabia o que era isso, e me impediu de passar, me orientando voltar para Santa Cruz, até a Delegacia de Trânsito, para conseguir o tal documento.

Me lembro de ter ficado puto por dentro, mas tão bem disfarçado com um ar solícito, que enquanto eu arrumava meus baús, o mesmo oficial voltou atrás e me liberou.
Me poupou quase 200 km de vai e volta... e naquele dia eu teria muita terra pra comer.

Passamos tranquilos pela Tranca e de cara encontramos máquinas na pista.

Esse trecho em que a Ruta 7 começa a se embrenhar na Cordilheira dos Andes, coberta de árvores e rios, a pista fica mais estreita e sinuosa, e há anos atrás, já havia cruzado vários trechos sem asfalto, já que é uma zona de instabilidade geológica, e é comum o asfalto ceder.

O que antes já era chato, agora estava mais complicado, pois muitos trechos só havia uma pista para duas mãos.
Disputamos algumas curvas com caminhões e vans, estas nem um pouco simpáticas em dar a passagem.

Em pouco tempo a obra ficou para trás, e a estrada se alternou em asfalto lisinho e esburacadinho, mas sempre em um traçado de curvas, que aos poucos revelava vales e paredões impressionantes enquanto subíamos suas encostas.

Sessenta quilômetros depois da Tranca avistamos a placa Fuerte de Samaipata, e saímos a esquerda em uma estradinha novinha em folha (6 km) até a entrada do Parque.

Até 2015 esse trecho era de cascalho e areião, e com uma estrada estreita, até nos dias de hoje, não dava ânimo de motocar, mas agora está uma delícia, embora percorrer estes poucos quilômetros requeira muita atenção, pois a estrada é de mão dupla e muito apertada, com curvas surpreendentemente fechadas e em série.

Motocada tranquila, chegamos ao Fuerte de Samaipata, onde pagamos cerca de US$ 7,00 de ingresso que dava direito a um guia, este já estava com uma mini excursão familiar, de umas 20 pessoas, que fez com que eu e a Elda saíssemos antes do grupo para garantir fotos bacanas.

Como fizemos a lição de casa pesquisando tudo sobre a atração, e pouco seria acrescido pelo guia, nos sentimos confiantes em passear pelo forte por conta própria.

Este parque é cheio de pormenores e informações conflitantes, e talvez por isso seja tão interessante.

O Fuerte de Samaipata é uma área cerimonial dos Incas, que tem como ponto central o alto de um monte, aonde uma rocha de aproximadamente 200x60m está coberta de entalhes, considerada a maior obra rupestre do mundo.

São ângulos retos, desenhos de animais deitados em semicírculos, serpentes e janelas, onde acredita-se, os mortos eram velados em rituais funerários.

O lugar é fantástico e gigante, e como se não bastasse essa obra, encontramos inúmeras construções como casas e um galpão descomunal, atribuído a algum depósito, posto administrativo ou militar dos Incas.
Nunca tinha visto uma “casa” Inca com essas dimensões... realmente impressionante e que nos faz pensar e repensar teorias.

Aliás, Samaipata possui teorias e contradições.
Primeiro que a denominação Fuerte, não foi bem a função desta área pelo Império Inca, já que como dito, tratava-se de um lugar de cerimoniais.
Quem realmente se apossou e transformou esta estrutura em forte foram os espanhóis, que em meados de 1.600 controlava quem entrava e saia de Santa Cruz.

Agora o mais curioso é que neste sítio existe uma parede Inca encostada na Rocha Talhada... até ai, morreu Neves, e daí, uma parede Inca num sítio Inca?

Acontece que a parede não é da mesma época da Rocha Talhada, logo dizer que isto é obra dos Incas é um erro, já que está se comprovando que quando os Incas chegaram, isso tudo já tinha sido feito por outra civilização.
Quando e por quem, são outros quinhentos.

O lugar vale muito o passeio, apesar dos trechos em obras e os esburacados.
Levamos cerca de 3h para chegar e 2h30 para voltar.

Não deixe para voltar depois das 15h, pois você encontrará um mega congestionamento.

Eu só não voltei tranquilo, como a noite ainda fui tomar algumas cervejas com o meu bom amigo Luiz Fernando, apaixonado por viagens de moto e que a essa altura já devorou o meu livro – meu primeiro leitor estrangeiro.

Se prepara Paulo Coelho, tô chegando!

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